quarta-feira, dezembro 28, 2005

Responsabilidade política

Miguel Rão Vieira, por mail, questiona:

“Gostaria de saber se podiam publicar algo que explicasse o que é a responsabilidade política. O senhor Jorge Coelho quando a ponte caiu assumiu a responsabilidade politica, no entanto uns anos depois e feita a barba, parece que está de volta! Expliquem-me por favor porque não consigo perceber o que é!”

Também eu gostaria de saber o que é isso de responsabilidade política. Para mim, responsabilidade é uma palavra que não necessita de mais qualificativos. Até porque acho que a demissão de Jorge Coelho (JC) foi um acto de uma grande irresponsabilidade, mas não só dele como de toda a oposição que achou que foi um acto de grande dignidade. Mas JC não fez nenhuma travessia no deserto porque foi o homem forte do aparelho partidário, o principal responsável para escolher os piores autarcas que este país já viu.

Mas havia razões para JC assumir responsabilidades? Ora assumem-se responsabilidades quando algo falhou por acções erradas, danosas, negligentes ou por omissão. JC mal tinha aquecido a pasta das obras públicas, nada disto lhe podia ser imputado. Ainda me lembro que JC mencionou este ponto, mas justificou a sua demissão porque ele estava não só a sua responsabilidade pessoal mas também a de todos os anteriores detentores da pasta. Palavras belas mas completamente inconsequentes. Lembro-me de Paulo Portas ter elogiado o acto, como se abdicar de um cargo de ministro fosse um sacrifício sem igual.

Quanto a mim tudo isto não passou de uma forma de não enfrentar o problema nem apurar responsabilidades. Um acto responsável seria assumir um compromisso com os portugueses para verificação de todas as obras públicas que estavam em mau estado e que poderiam provocar acidentes e ficar no lugar para, aí sim, poder ser responsabilizado de verdade caso algo acontecesse. Mas a verdade é que ninguém espera ver actos responsáveis. Os portugueses assistem, inertes, ao anúncio de obras megalómanas enquanto as reformas urgentes não se pensam fazer.
MC
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Dois mundos irreais

Será toda a existência o sonho de um génio louco? É a sensação que fico ao ver os media tradicionais, especialmente a televisão, depois de passar semanas sem lhe prestar qualquer atenção. A minha fonte de informação são os blogs quase em exclusividade. Por isso ganhei maus hábitos, diria mesmo hábitos anti-sociais. Habituei-me, por exemplo, a que cada decisão política e económica fosse questionada nos seus méritos e deméritos. Pior que isso, que o ponto de vista liberal fosse tido em consideração. E quais as consequências? A política e a economia deixaram de ser questões religiosas, deixei de ter pudor em questionar as crenças dominantes. Obviamente que para manter os amigos e não ser apedrejado na rua tenho de esconder esta terrível verdade de todos.

Mas confesso que, por vezes ,fico receoso de entrar num estado de contradição interna que me pode levar a algum estado de demência irrecuperável. As contradições entre o mundo dos blogs e o mundo dos media tradicionais são tantas que fico indeciso sobre em qual acreditar. Por exemplo, nas televisões Mário Soares é uma pessoa credível, que não diz barbaridades, que não se baralha todo, uma senador impoluto. Nos blogs (alguns) Soares é quezilento, arrogante, confuso, quase demente. Em que versão acreditar?

Ou então Louçã, que na TV é sempre eloquente, bem pensante, moderno, justo, equilibrado, mas nos blogs (alguns) não passa de um hipócrita, mentiroso compulsivo, demagogo, irresponsável. Ou sobre a Europa, que na TV é o continente mais avançado do mundo, moralmente superior, mais justo que os EUA, ameaçado pelos malvados chineses e Indianos, enquanto nos blogs (alguns) a Europa é um continente velho, esclerosado, que não soube adaptar-se aos tempos, que esconde a sua cobardia atrás de grandes valores morais (que não cumpre), que mostra egoísmo com estúpidas medidas proteccionistas, etc.

A lista poderia continuar, mas para bem da minha sanidade mental é melhor parar. Até há uns anos atrás pensava que só existia um universo (ou mesmo existindo vários, só poderíamos ter acesso a um), e nesse sistema a verdade não era relativa, dela emanando uma lógica baseada em factos e que permitia raciocínios sem falhas desde que não se entrasse em contradição com as leis elementares. A realidade era portanto, não-dual. Tudo isto agora foi posto em causa, não sei se a minha alma poderá voltar a ter sossego nesta ambiguidade sem solução à vista.
MC
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segunda-feira, dezembro 26, 2005

Resposta de Soares ao meu post anterior

Mentira, foi mesmo aos jornalista que lhe perguntou: «Ficou chocado com o que disse o líder do... do PP?» Soares deu esta resposta bem expressiva, com comentários maldosos meus a itálico:
«Não, não foi o líder do PP que disse isso. Aquela coisa a que eu me referi, do terrorismo [a necessidade de diálogo e partilha de experiências enriquecedoras para ambos?], foi o líder do CDS que disse isso [CDS e PP, dois irmãos gémeos separados à nascença], doutor Ribeiro e Castro, que é uma coisa inaceitável e ... e impossível [então afinal não disse porque afinal é impossível ter dito]. Ele diz aquilo, ele é, ainda por cima, deputado do Partido Socialista [desconhecia esta filiação secreta de Ribeiro e Castro]. Um dos grandes grupos do Partido Socialista é o Partido Socialista... [não consigo negar esta]. É o Partido Socialista Europeu. Imagine lá como é que ele vai se entender com os colegas do parlamento europeu a dizer dessas coisas aqui no plano interno [Soares ameaça fazer queixinhas]. E é feio [e consta que cheira mal da boca], não é bonito [mas então em que é que ficamos? É feio ou não é bonito?], eeeeeeeeee... [aqui Soares arrastou o “e”, que foi a única falha que detectei na sua resposta tão fluída e coerente] e é uma pena que seja... seja um dos mais entusiásticos, se não o mais entusiástico apoiantes do doutor Cavaco nesta eleição [curioso, eu a pensar que por esta altura o mais entusiástico apoiante de Cavaco era José Sócrates].»
MC
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sábado, dezembro 24, 2005

Espírito pouco natalício

Ribeiro e Castro esteve mal, para líder de um partido que dá valor às tradições. Ora o Natal é a época do ano em que se celebra o irrealismo, é o Pai Natal, é o menino Jesus que nasceu sem ser concebido. Ribeiro e Castro não tinha nada que dizer que a Esquerda é causadora de terrorismo, é uma péssima altura para começar a dizer as verdades.
MC
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quinta-feira, dezembro 22, 2005

Oportunidades de negócio

Diz-se que Portugal tem uma boa gastronomia, sabe receber, tem um povo acolhedor e essas coisas todas. Contudo, sinto existirem enormes carências nestes sectores. Há donos de restaurantes e hotéis que tentam fazer um esforço mas nitidamente andam às aranhas. Algumas empresas de outros ramos menos tradicionais testam a qualidade do seu atendimento através de clientes mistério. A minha proposta de negócio é a criação de uma empresa de clientes mistério para as áreas da restauração e hotelaria.

Os clientes mistério podem ser desde adolescentes a reformados, porque há que perceber como são tratadas as várias faixas etárias. No final de uma ou várias visitas, a entidade requerente receberia um relatório com propostas de melhoria. Poderia ainda dar-se um passo em frente, não apenas sugerir as melhorias mas criar meios para as implementar. Por exemplo, ao invés de sugerir apenas uma mudança na decoração e disposição de um determinado restaurante, a empresa Cliente Mistério poderia logo elaborar um projecto para tal, onde recorresse ao outsourcing de outras empresas para a implementação concreta do projecto.

Um restaurante que contratasse os serviços desta empresa teria várias vantagens. Simplificação dos processos, porque bastaria lidar directamente com a empresa “Cliente Mistério”. A Cliente Mistério iria coordenar serviços para dezenas ou centenas de clientes e, aproveitando o factor de escala, um pequeno restaurante poderia, através dos serviços da Cliente Mistério, fazer uma remodelação a preços muito mais baixos e bastante mais rapidamente.

O leque de serviços que a Cliente Mistério poderia fornecer iria estender-se a cursos de culinária, etiqueta, animação cultural, etc. Ou seja, uma gama de serviços à medida das necessidades de cada cliente, do orçamento disponível e da ambição mostrada. A Cliente Mistério faria um estudo de Benchmarking inigualável com o desenrolar normal da sua actividade que lhe daria uma experiência ímpar. Uma forma de uma empresa privada realmente ajudar o turismo neste país.

MC
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quarta-feira, dezembro 21, 2005

Último round

Os génios da imprensa são unânimes. Soares tinha de tentar tudo por tudo para que Cavaco comete-se uma gafe, um deslize, que se irritasse, que começasse a insultar Soares. Para isso, Soares insultou, mentiu, foi arrogante, estúpido, mal educado, violou as regras que tinha aceite, entrou em contradição, etc. Cavaco, sem estar brilhante, não reagiu. A única farpa que lançou dizia respeito à incompetência de Soares, que nunca teve paciência para ler dossiers, Seguramente instruído pelos seus consultores de imagem, Cavaco mostrou um semblante mais aberto, chegou mesmo a sorrir perante as pirraças soaristas.

Mas os jornalistas sabem que nestas coisas não interessa quem tem melhor argumentos, nem sequer interessa se Soares não lançou uma única ideia. Interessa se lançou mais farpas, porque o povo burgesso apenas reage à lógica do impulso, segundo eles pensam. Por isso não têm dúvidas em considerar Soares o vencedor. Alguns admitem que Soares possa ter siso um bocadinho incisivo demais, mas sem ter pisado o risco. Acho que estas análises dizem apenas que carácter têm os jornalistas e comentadores, nada mais que isso.

MC
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quarta-feira, dezembro 14, 2005

Desigualdade e pobreza

Os discursos politicamente correctos juntam sempre as temáticas da “pobreza” e das “desigualdades sociais”. Convenientemente, nunca explicam em profundidade o relacionamento entre ambas. Porque na verdade não existe qualquer correlação. Seria mais correcto associar as desigualdades sociais à riqueza do que à pobreza. Não é necessária uma mente brilhante para perceber isto, mas a “gordura ideológica” torna o raciocínio lento e viscoso, que prefere tomar alguns atalhos seguros.

Numa sociedade de pobres, a típica sociedade socialista, não há desigualdades.Com um misto de terror, emprego garantido, pão e algum circo, o socialismo real parece algo menos mau. A sociedade pode ser mesquinha mas não tem muito para invejar. Nem para ambicionar. Os próprios teóricos socialistas não têm argumentos para falar em distribuir riqueza neste ambiente. Não lhes convém falar daquilo que, afinal, o modelo que idealizam não consegue produzir.

Os teóricos socialistas irritam-se com a riqueza criada pelo capitalismo porque o seu socialismo real não consegue produzir os mesmos efeitos. Como demonstrar inveja, seja em que contexto for, parece mal, os socialistas mudam a tónica para as desigualdades sociais. Mais que isso, conseguem de forma eficaz passar a ideia que a riqueza de uns só pode advir da pobreza de outros. Tentam convencer dois tipos de pessoas. Por um lado, captar a atenção dos invejosos, que não tiveram nem arte nem engenho para criar riqueza. Mas também dos bons corações, que acreditam sinceramente na possibilidade de criar uma sociedade melhor.

É curioso que são estes últimos, os ingénuos, os mais perigosos, porque acabam por ser os maiores defensores das políticas intervencionistas. Os invejosos, no fundo, admiram quem sabe criar riqueza. Mais que isso, não querem abdicar da possibilidade de também a atingirem. Por estarem mais próximos da realidade, os invejosos acabam por ser uma fonte de esperança.
MC
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terça-feira, dezembro 06, 2005

Empolgante debate

Ontem tivemos o primeiro debate para as presidenciais. Confesso que não acompanhei em exclusividade, porque ia alternando com o “Wrestling Americano”. A toda a hora estive na expectativa de Mário Soares entrar pelo estúdio adentro e, à traição, enfiar uma cadeira nos cornos na cabeça de Manuel Alegre Cavaco Silva.

MC
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