sábado, outubro 06, 2007

Guerra cultural (12)

AS TRINCHEIRAS (4)

No outro lado da trincheira estão aqueles que procuram a verdade sobre o mundo em que vivem. Esta busca é sempre individual em sentido último, não podendo ser dissociada do conhecimento de si mesmo. Existe uma diferença abismal entre o conhecimento obtido para resolver um problema específico e aquele em busca da verdade. O primeiro é utilitarista, uma técnica que se domina sem ser necessário compreender os fundamentos. Todos nós precisamos de inúmeros conhecimentos deste tipo para podermos viver em sociedade. Falar, escrever, álgebra, comer com talheres, conduzir, saber fazer amor com uma bela mulher. De todas as pessoas que conduzem um automóvel apenas uma ínfima fracção sabe exactamente o que faz a embraiagem ou tem noção dos princípios do motor de explosão. E não é por alguém saber tudo sobre mecânica de automóveis que fica mais capacitado para a condução. Outro tipo de conhecimentos deste género resulta do acumular de saberes ao longo de muitas gerações, pelo que as fundações se perderam no tempo. Pensemos, por exemplo, nas receitas de culinária.
A busca da verdade é a tentativa de responder a questões essenciais. É frequente levar anos até serem encontradas essas questões. Depois disso a verdade é como um puzzle que se vai montando, sem ter um fim à vista. Por vezes há peças que se vem a descobrir que não pertencem àquele filme. Normalmente não é só uma peça a substituir mas várias em seu redor, que pareciam formar anteriormente um conjunto credível. Não é uma busca puramente abstracta e quem segue este caminho tem de testar permanentemente em si os fragmentos até aí descobertos. Não se pode limitar a aceitar passivamente soluções por outros já apresentadas. Tem de as considerar atentamente, rastreando-as até às origens, confrontá-las com outras perspectivas, até que mais um fragmento da verdade se forme na sua mente neste processo, apenas tendo a verdade como guia e sem forçar conclusões. São raras as pessoas que se orientam por desígnios tão nobres e também são poucos os que as conseguem identificar. Em geral recebem acusações rasteiras que lhes tentam desvendar as motivações mesquinhas que supostamente os guiam. Quem acusa desta forma deve ser, antes de mais, o principal alvo de desconfiança.
MC
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