domingo, dezembro 31, 2006

Jean-François Revel (23)

O ANTIAMERICANISMO COMO PRINCIPAL OBREIRO DA SUPERPOTÊNCIA

«A obsessão antimericana tem como consequência suscitar e agravar o mal, ou o inconveniente, que pretende combater, ou seja o «unilateralismo» de que os Estados Unidos são acusados. Com efeito, à força de criticar os americanos em todas as ocasiões, façam estes o que fizerem e mesmo quando têm razão, nós europeus, que não somos os únicos mas que estamos na primeira linha dessas críticas, levamo-los a ignorar as nossas objecções mesmo quando são pertinentes.»

O aumento de subsídios a agricultores americanos em 2002 é bastante criticável, mas é caricato ser a Europa a fazer esta censura quando tem uma Política Agrícola Comum que atribui mais subsídios ainda, especialmente em França. Estariam os europeus a criticar o proteccionismo americano que eles próprios aplicam? Contudo, a opinião pública é quase unânime em considerar a globalização de mercados prejudicial aos países pobres e só servir os interesses americanos. Se assim fosse, este aumentar de proteccionismo devia ser aplaudido porque é um fechar e não abrir de mercados.

A anunciada retoma da construção do escudo antimissíl em 2001 por George W. Bush também mereceu reprovação generalizada, sobretudo devido a dois argumentos. Primeiro argumenta-se que o projecto é irrealizável, nunca funcionará. O segundo é que o escudo iria alterar o equilíbrio de forças estabelecido pelo Tratado ABM de 1972 e levar a uma corrida ao armamento. Podíamos logo perguntar como é que algo que seguramente não funcionará pode levar a uma corrida ao armamento. Mas há um não querer perceber que o escudo defensivo já não deve ser interpretado à luz de uma lógica ultrapassada de Guerra-fria mas num contexto em que grupos terroristas e Estados pária constituem ameaças concretas e nunca se submeterão a qualquer controlo. «A cegueira voluntária demonstrada pelos Europeus perante estas modificações radicais torna inútil para a América qualquer tentativa de diálogo com eles sobre estas questões e leva-a, naturalmente, a agir ainda mais unilateralmente. Como é que se pode discutir um problema com pessoas que negam a sua existência?»

«Decididamente, a «esquerda» europeia não aprendeu nada com a história do século XX. Continua a mostrar-se fanática para com os moderados e moderada com os fanáticos.»

MC
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