quinta-feira, dezembro 28, 2006

Jean-François Revel (17)

A PIOR SOCIEDADE QUE JAMAIS EXISTIU (II)

Os sistemas de ensino primário e secundários americanos são motivo de zombaria. Os principais acusadores não estão certamente interessados em contribuir para a resolução dos problemas americanos neste domínio. São os mesmos que na Europa, especialmente em França (e em Portugal a situação é idêntica) conseguiram através de pressões ideológicas, exercidas desde 1970, interditar dois “abusos”: o ensino e a disciplina. Por um lado proliferam os métodos de ensino alternativos, que não só recusam a memorização de conhecimentos como o próprio raciocínio. Talvez ainda mais grave é a indisciplina que não pára de aumentar e a consequente ocorrência de actos de violência rotineiros sobre alunos e professores. Estes últimos estão sem instrumentos que possam recorrer para aliviar a situação. Nas turmas incontroláveis, cujo número alastra, os rebeldes são os alunos que tentam aprender e esta insurgência é frequentemente recompensada com uma carga de porrada.

A venda livre de armas nos EUA não é seguramente algo a seguir. De referir, em primeiro lugar que nos EUA o registo é obrigatório e quem quiser obter uma licença de porte de arma têm de deixar registadas as suas impressões digitais. Mais uma vez fica patente a falta de humildade no lado europeu mesmo quando critica de forma acertada o «modelo americano» porque quer fazer esquecer o tráfego ilegal de armas cada vez maior por cá, enquanto as forças policiais desesperam por terem cada vez menos meios de combate ao crime. Em França a violência étnica é constantemente dissimulada para se evitar críticas de racismo e onde a violência de carácter ideológico de José Bové é absolvida através de pressões do poder político sobre o judicial.

A sociedade americana ainda é vista como sendo bastante racista. Se um nova-iorquino diz-nos que é irlandês, italiano, judeu ou árabe, não está aí implícito um repúdio à nacionalidade americana, ao contrário do que acontece na Europa. A elite progressista americana tentou estilhaçar o “melting pot” ao pregar o multiculturalismo e reivindicar «o direito de cada comunidade étnica à sua própria «identidade», considerando a americanização como uma forma de opressão.» Esse multiculturalismo, em grande medida rejeitado nos EUA, acaba por ser aplicado na Europa, em especial na França. No caso particular das comunidades magrebinas, esta “pedagogia” de integração em nome da excepção cultural nega a cultura francesa e nem as múltiplas ajudas políticas impedem o aumento do desprezo dos muçulmanos por tudo o que é francês, nomeadamente as leis da república.

(Cont.)
MC
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