Jean-François Revel (3)
Felizmente que nas democracias modernas não existe censura, mas ainda assim há um substituto que quer estar à sua altura: O Tabu. O tabu é uma interdição ritual que limita a liberdade de expressão, sendo instituído pelo ideólogo de quem todos têm medo da reacção. Para Jean-François Revel, o Grande Tabu das sociedades ocidentais é a crítica aos regimes de esquerda. Se por acaso essa crítica acontece, terá de ser imediatamente compensada com crítica tão ou mais contundente a uma sociedade capitalista democrática ou a uma ditadura de direita.
Uma forma de desviar as atenções sobre os regimes comunistas é manter vivo o receio de existir actualmente, a nível mundial, um perigo de um totalitarismo de direita como o que se verificou nas décadas de 30 e 40 do século XX. Apesar do nazismo e do fascismo terem sido derrotados há várias décadas, à custa de muito sangue, a esquerda insiste em manter a vigilância. Conseguem ver a essência nazi na ditadura de Pinochet, no apartheid ou mesmo numa simples deportação de estrangeiros ilegais (Esta passagem reflecte em especial as condições vividas na época em que o livro foi escrito. Actualmente a ênfase está posta sobretudo no antiamericanismo e na luta contra a globalização. Estes assuntos serão abordados em outros posts baseados em outro livro de JFR “A Obsessão Antiamericana”. Contudo, em Portugal a retórica antifascista encontra-se bem viva ainda, onde questionar as funções do Estado, o modelo de Segurança Social ou os direitos adquiridos só pode revelar uma mentalidade salazarista).
Com o Grande Tabu instituído, as críticas ao gulag de nada serviam porque nos lembravam logo dos campos de concentração nazi. Os defensores do regime soviético diziam que o ocidente não podia criticar o comunismo enquanto existisse o apartheid mas nunca ninguém ousou dizer o inverso. A luta contra as injustiças do mundo foi transformada numa batalha contra os novos nazismos. Há uma tentativa paradoxal de recusa em conhecer a História mas ao mesmo tempo tentar revivê-la em forma de encenação. O resultado imediato é que as causas das injustiças presentes são totalmente olvidadas, ou seja, a ignorância voluntária sobre o passado facilita a maior fraude possível no presente.
MC
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