sexta-feira, julho 14, 2006

Rescaldo do Mundial

Segundo o sistema de avaliação que descrevi aqui a selecção nacional e Scolari estão de parabéns, apesar de não ser ter chegado ao 3º lugar. Apesar de tudo há alguma insatisfação. Pelos jogos que foi fazendo, a selecção portuguesa podia bem ter chegado à final porque nunca foi inferior aos seus adversários e poderei mesmo dizer que foi superior.

A insatisfação é também por outros motivos. Não sinto, pessoalmente, uma grande sensação de injustiça em relação ao árbitro no jogo contra a França. O penalti contra Portugal existiu sem dúvida, o contra a França é mais duvidoso, por isso não houve nenhum erro descarado. Contudo, fica sempre alguma sensação de que sendo ao contrário as decisões poderiam ter sido diferentes. Mas talvez o que cause maior tristeza foi ver a equipa até jogar bem mas faltar alguma acutilância para o golo. Não é fácil, bem sabemos, o desgaste, as pressões e tudo ter que ser decidido em tão pouco tempo. Na realidade, este mundial foi a prova que é cada vez mais difícil um jogador fazer a diferença. Infelizmente a excepção aconteceu no último jogo com Portugal, onde Schweinsteiger teve o seu dia em pleno.

Há ainda o incidente com Zidane. Curioso que tive sempre a torcer para a França ganhar apenas para ver mais um jogo de Zidane (excepto com Portugal, porque mesmo se perdesse ainda teriam outro jogo, e também com Itália porque seria sempre o último jogo). É uma questão que já pensei em tempos. É bem sabido que uma das tácticas dos defesas que têm alguém para marcar é o insulto. Há a dificuldade em punir o que não se vê. Por isso é natural que Zidane tenha sido expulso por uma cabeçada que toda a gente viu e Materazzi tenha ficado em campo apesar dos insultos constantes que obviamente proferiu. Agora o que me parece haver é uma grande confusão entre os planos de avaliação. Se em termos práticos não é, por enquanto, possível descobrir os jogadores que andam sempre aos insultos, em termos mais abstractos penso não ter sentido algum achar que a cabeçada de Zidane é pior do que o amontoado de insultado. Em termos reais claro que é pior a cabeçada porque o jogador é punido e também sofrem consequências a equipa e os adeptos. Mas considerando apenas os dois incidentes isolados, Materazzi não merecia apenas a cabeçada como um brutal espancamento. Sim, sim, somos todos pacíficos e a violência nunca resolve nada e essas coisas todas.

Este tipo de confusões entre uma situação abstracta, idealizada e o plano do real também deu origem a algumas avaliações que penso serem erradas sobre o jogo Portugal – Holanda. É óbvio que em termos idealizados, a actuação da equipa portuguesa não foi imaculada e não tem sentido em falar em fair play. Mas em termos reais era a única coisa a fazer. A equipa holandesa veio com uma táctica clara de tentar ganhar à margem das leis do jogo, começando logo por tentando eliminar Cristiano Ronaldo, o que acabou por acontecer. Tendo também em conta a forma de actuação do árbitro, a única maneira de poder ter alguma chance de vencer o jogo seria entrar pela mesma táctica dos holandeses. Foi o que aconteceu claramente quando Figo de forma deliberada começou a provocar um jogador holandês. Os holandeses acabaram por provar do seu próprio veneno e só podemos achar que foi muito bem feita!
E claro que Zidane deve receber o prémio para melhor jogador e Cristiano Ronaldo para o melhor jogador jovem. A razão é simples, foram os dois únicos jogadores, com estilos bem diferentes, que em todos os jogos marcaram a diferença sempre que tocaram na bola. A forma como Zidane quase sem se mexer tira qualquer adversário do caminho e faz chegar a bola a um colega seu na perfeição, ou como Cristiano Ronaldo pega na bola e obriga instantaneamente as duas equipas a acelerar o rimo, são coisas como estas que permitem dizer que é mentira quando nos dizem que “no fim apenas conta o resultado”.
MC
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