terça-feira, junho 20, 2006

Multiculturalismo e as extremas políticas

A extrema-direita tem uma posição clara sobre o multiculturalismo, sendo frontalmente contra, negando assim qualquer validade na contribuição dos emigrantes para a construção do país. Esta posição, pouco humanista, para além de contrastar com as práticas seculares lusas, que fizerem de nós um dos povos mais miscigenados do mundo, não tem ainda em conta o declínio demográfico que vem ocorrendo e a necessidade de input exterior para evitar que o sistema entre em colapso. O aumento de situações de violência por parte de certos grupos étnicos pode tornar estas ideias demasiado apelativas.

E uma das causas que pode potenciar a violência étnica é a visão multiculturalista da extrema-esquerda. Ou seja, ao invés de serem visões opostas, são complementares. A visão da extrema-esquerda destas questões é apelativa para o intelectual urbano-depressivo mas ambígua para o cidadão comum. O multiculturalismo que se defende, na prática, não é uma questão de respeitar outras culturas e absorver os seus contributos válidos. Trata-se apenas de um ferramenta ao serviço do relativismo absoluto, que visa o desmoronamento da cultura ocidental. Existem duas manobras básicas nesta actuação. Uma delas baseia-se na ideia que todas as culturas são iguais e têm a mesma validade. Desta forma tenta-se desvalorizar aquilo que o ocidente tem de superior a muitas culturas, a liberdade, a tolerância, não-discriminação sexual e, talvez mais importante que tudo, um sistema de criação de riqueza mais eficaz.

A outra manobra utilizada pela extrema-esquerda na salada multicultural, de certa forma contradiz a anterior, baseia-se em comparações entre culturas, sempre com desvantagem para o ocidente. Este método é realmente devastador, potenciando o ódio ao ocidente em geral, porque se fundamenta em muitas coisas que até são verdade. É relativamente fácil encontrar na longa história do ocidente actos bárbaros e na cultura actual costumes bizarros e absurdos. Escolhendo exemplos favoráveis em outras culturas para fazer contraponto, sai daqui uma imagem deplorável do ocidente.

Pessoalmente já me vi envolvido nestas manobras de forma meio ingénua mas ainda em adolescente percebi que o meu fascínio por alguns aspectos de outras culturas não me devia deixar extrapolar demasiado, porque era evidente que o ocidente era superior em muitos aspectos. O meu multiculturalismo não era um masoquismo cultural mas sim uma abertura em aceitar contributos válidos de outras paragens, assim como uma abertura também para os rejeitar e de ter um orgulho no que bom se tem por cá. Ora, compare-se esta atitude com a da extrema-esquerda. Não existe qualquer reconhecimento daquilo que é positivo no ocidente, o que não será de espantar porque para a esquerda o que conta é a mudança, o que está para vir e não o que há. E na verdade também não há nenhum entusiasmo nas coisas positivas que eles dizem ver em outras culturas, porque são mero instrumento na sua luta.

Outra razão que torna as concepções da extrema-direita e da extrema-esquerda sobre o multiculturalismo complementares é serem ambas atitudes que ambas as extremas querem tomar em nome de toda a sociedade, normalmente em forma de leis. Os limites até onde se pode legislar são questões delicadas mas a partir de certo momento torna-se óbvio que as liberdades individuais negativas ficam ameaçadas. Ambas as extremas políticas vêem a liberdade apenas como um instrumento útil que deve ser abolido mal se atinja o poder. E o poder de uma extrema cria uma tensão tal que parece apenas ser resolúvel com uma alternativa de sinal contrário. Mas se assim é, se uma extrema cria uma vaga de fundo para outra de sinal contrário lhe suceder, mais não temos que uma situação de complementaridade.

MC
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