sexta-feira, maio 26, 2006

A culpa é do árbitro

Ao comentar o jogo contra a Sérvia-Montenegro, João Moutinho não escondeu a sua raiva, disse que foi uma injustiça e o árbitro tinha estado contra eles. Mas não há que desanimar, ainda podem marcar 3 golos contra a Alemanha e quem sabe ainda ser campeões europeus. O jornalista ainda perguntou como é que pensavam marcar 3 golos num jogo se em 2 não marcaram nenhum. Uma bela pergunta que teve uma resposta atabalhoada.

Não é de agora e nem é só cá que persiste este tipo de atitude, ausência de autocrítica e língua afiada contra os suspeitos do costume. Não vi a totalidade dos jogos da selecção sub-21, digamos que vi o “suficiente” e depois ia apenas passando por lá no meio o zaping. Agora não me restam dúvidas que Portugal foi mais fraco que os adversários e as arbitragens não fizeram a diferença. É certo que os jogadores têm algum valor mas parece que todos andam desatentos ao que se faz lá fora e depois não se quer enfrentar a realidade. Se somos os melhores devíamos ter ganho e se não ganhamos foi porque algo de “estranho” se passou. O que se passou de “estranho” foi as equipas contrárias estarem mais concentradas, esforçarem-se ao máximo, terem uma excelente cultura táctica e a equipa lusa não conseguir criar oportunidades de golo.

As equipas portuguesas de futebol, tanto a principal como a de esperanças, têm alcançado um nível de resultados bastante apreciável na última dúzia de anos. Tal como as equipas nacionais têm surpreendido algumas das nações “históricas”, o mesmo o podem fazer outras equipas a nós. Acontece que países como a Alemanha, França, Itália, Brasil e Argentina têm décadas e décadas de habituação a vitórias ou pelo menos a estar nos lugares de topo. É natural que estas equipas se sintam bastante surpreendidas com a chegada de outros que lhes ombreiam. Contudo, Portugal ainda há pouco anos andava sempre a fazer contas para ver se ainda conseguia entrar nas fases finais dos campeonatos. Se há meia dúzia de anos as coisas passaram a ser mais fáceis, não há que pensar que se atingiu uma consistência inabalável e muito menos ficar surpreendido se outros países tiverem algo a dizer.

A atitude de João Moutinho, que penso ser geral nos jogadores e equipa técnica, é ainda mais grave. É como se achassem que só por ser quem são mereciam logo ganhar os jogos. É uma atitude típica das sociedades dos direitos adquiridos, que muito facilmente se mescla com a xenofobia. Não é por acaso que aqueles jogadores que dentro do campo nitidamente não sabem muito bem o que andam a fazer, depois ao darem entrevistas fazem uma avaliação que é quase uma teoria da conspiração. Veremos dentro de poucas semanas se a equipa principal optou pela realidade ou pela ilusão.

MC
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