Alvo fácil
Devido a ausência meio forçada, que me impediu manter a actualização semanal, ao longo desta semana e com carácter excepcional, serão colocados alguns posts para manter a “conversa em dia”.
Há umas semanas atrás a RTP mostrou uma reportagem chocante, que evidenciava as péssimas condições de “ensino” de uma escola da grande Lisboa. Uma rotina de agressões constantes, ameaças a professores e até mesmo assédio sexual por parte de adolescentes demasiado precoces. Casos excepcionais que surpreenderam o secretário de estado, que pensava já ter dominado a situação. O que me surpreende a mim é estes indivíduos em posições de topo acharem que problemas graves se resolvem com uma “task-force” e não conhecerem quem lhes dá a informação “credível”. Mas chega de frases com aspas.
Pessoalmente não me surpreende nada este tipo de situação, uma vez que ao longo dos anos tenho mantido contacto informal com vários professores de secundário e observado o seu desânimo progressivo, as suas queixas em relação à perda da autoridade, as chantagens dos pais e tudo mais. Por isso, bastava fazer uma ligeira extrapolação para as escolas em locais mais problemáticos e imaginar o caos total como o resultado mais previsível. E é neste paroxismo que surge a proposta de avaliação dos professores, após a ministra os nomear como principais culpados do estado de coisas.
A questão da avaliação dos professores e a sua aplicação prática neste momento não é uma questão simples. Penso que a ideia da avaliação é positiva mas é compreensível que muitos professores achem que se trata da machadada final da figura do docente. É certo que parte da reacção negativa aconteceria sempre e penso ser injustificada, porque é mero corporativismo, imobilismo, tão típicos do funcionalismo público. Contudo, é de elementar bom senso prever uma reacção apavorada dos professores ao saber que os pais iriam também fazer parte do sistema de avaliação.
Os professores vêm hoje em dia os pais como indivíduos totalmente alheados da educação dos filhos, que só aparecem na escola para pressionar, quando não ameaçar, os professores no sentido dos seus filhos não ficarem pelo caminho ou de terem melhores notas em relação ao que merecem. Num clima já de chantagem, isto parece ainda reforçar o poder do chantagista. Os defensores desta avaliação dizem-nos que a avaliação parental é apenas uma das componentes do processo e que ficará a cargo de uma entidade independente. Dizem-nos também que os professores não devem temer uma avaliação negativa de alguns pais porque o que o que conta é o global e as avaliações positivas cancelarão as negativas. Dizem também que esta medida servirá para que os pais se envolvam mais na escola e não tenham um papel tão demissionário como até agora.
Apesar de concordar genericamente com a ideia da avaliação e de achar que aqui há coragem política, e ressalvando que conheço da proposta apenas o seu esboço, parecem-me existirem alguns problemas que podem minar a sua implementação. Vejamos a questão da estatística, onde as más amostras são engolidas pelas boas. Isto é, defende-se que em média a avaliação será justa (e é a “média” que conta) porque se alguns pais ressabiados fizerem uma avaliação injusta pela negativa do professor, outros poderão fazer o oposto e a distribuição serão uma gaussiana. Acontece que não se pode fazer esta inferência porque não se está a lidar com um fenómeno físico sem vontade mas sim com pessoas que se adaptam às circunstâncias. Concretizando, os alunos/pais até podem ser estúpidos mas não são parvos e é óbvio que eles não querem ser avaliados justamente mas o melhor possível. Não são apenas os maus alunos mas também os bons e os medianos que terão tendência para fazer pressão. E se um professor ceder num caso ver-se-á quase obrigado em ceder em todos. Na verdade, os pais/alunos podem chegar em conjunto à conclusão que vale a pena pressionar em bloco, no sentido das notas globalmente terem um desvio para a direita e assim os maus alunos serem avaliados como medianos, os medianos como bons e os bons como excepcionais. Aparentemente todos ficam a ganhar, o professor fica descansado e quando a dura realidade bater a porta mais tarde ninguém se irá lembrar de nada.
Vamos agora imaginar que o sistema de avaliação é concebido de tal forma que as possibilidades de pressionar os professores são muito reduzidas e estes podem avaliar correctamente os alunos. Ora, isto entra em contradição com o objectivo da medida de chamar os pais para a escola, porque só alguém muito ingénuo pode acreditar que os pais vão-se interessar pela avaliação se ela “não servir para nada”, ou seja, se não servir para pressionar.
Há umas semanas atrás a RTP mostrou uma reportagem chocante, que evidenciava as péssimas condições de “ensino” de uma escola da grande Lisboa. Uma rotina de agressões constantes, ameaças a professores e até mesmo assédio sexual por parte de adolescentes demasiado precoces. Casos excepcionais que surpreenderam o secretário de estado, que pensava já ter dominado a situação. O que me surpreende a mim é estes indivíduos em posições de topo acharem que problemas graves se resolvem com uma “task-force” e não conhecerem quem lhes dá a informação “credível”. Mas chega de frases com aspas.
Pessoalmente não me surpreende nada este tipo de situação, uma vez que ao longo dos anos tenho mantido contacto informal com vários professores de secundário e observado o seu desânimo progressivo, as suas queixas em relação à perda da autoridade, as chantagens dos pais e tudo mais. Por isso, bastava fazer uma ligeira extrapolação para as escolas em locais mais problemáticos e imaginar o caos total como o resultado mais previsível. E é neste paroxismo que surge a proposta de avaliação dos professores, após a ministra os nomear como principais culpados do estado de coisas.
A questão da avaliação dos professores e a sua aplicação prática neste momento não é uma questão simples. Penso que a ideia da avaliação é positiva mas é compreensível que muitos professores achem que se trata da machadada final da figura do docente. É certo que parte da reacção negativa aconteceria sempre e penso ser injustificada, porque é mero corporativismo, imobilismo, tão típicos do funcionalismo público. Contudo, é de elementar bom senso prever uma reacção apavorada dos professores ao saber que os pais iriam também fazer parte do sistema de avaliação.
Os professores vêm hoje em dia os pais como indivíduos totalmente alheados da educação dos filhos, que só aparecem na escola para pressionar, quando não ameaçar, os professores no sentido dos seus filhos não ficarem pelo caminho ou de terem melhores notas em relação ao que merecem. Num clima já de chantagem, isto parece ainda reforçar o poder do chantagista. Os defensores desta avaliação dizem-nos que a avaliação parental é apenas uma das componentes do processo e que ficará a cargo de uma entidade independente. Dizem-nos também que os professores não devem temer uma avaliação negativa de alguns pais porque o que o que conta é o global e as avaliações positivas cancelarão as negativas. Dizem também que esta medida servirá para que os pais se envolvam mais na escola e não tenham um papel tão demissionário como até agora.
Apesar de concordar genericamente com a ideia da avaliação e de achar que aqui há coragem política, e ressalvando que conheço da proposta apenas o seu esboço, parecem-me existirem alguns problemas que podem minar a sua implementação. Vejamos a questão da estatística, onde as más amostras são engolidas pelas boas. Isto é, defende-se que em média a avaliação será justa (e é a “média” que conta) porque se alguns pais ressabiados fizerem uma avaliação injusta pela negativa do professor, outros poderão fazer o oposto e a distribuição serão uma gaussiana. Acontece que não se pode fazer esta inferência porque não se está a lidar com um fenómeno físico sem vontade mas sim com pessoas que se adaptam às circunstâncias. Concretizando, os alunos/pais até podem ser estúpidos mas não são parvos e é óbvio que eles não querem ser avaliados justamente mas o melhor possível. Não são apenas os maus alunos mas também os bons e os medianos que terão tendência para fazer pressão. E se um professor ceder num caso ver-se-á quase obrigado em ceder em todos. Na verdade, os pais/alunos podem chegar em conjunto à conclusão que vale a pena pressionar em bloco, no sentido das notas globalmente terem um desvio para a direita e assim os maus alunos serem avaliados como medianos, os medianos como bons e os bons como excepcionais. Aparentemente todos ficam a ganhar, o professor fica descansado e quando a dura realidade bater a porta mais tarde ninguém se irá lembrar de nada.
Vamos agora imaginar que o sistema de avaliação é concebido de tal forma que as possibilidades de pressionar os professores são muito reduzidas e estes podem avaliar correctamente os alunos. Ora, isto entra em contradição com o objectivo da medida de chamar os pais para a escola, porque só alguém muito ingénuo pode acreditar que os pais vão-se interessar pela avaliação se ela “não servir para nada”, ou seja, se não servir para pressionar.
A própria ideia da avaliação dos professores parece anacrónica nesta altura, quando os próprios alunos quase não podem ser avaliados sob pena de incorrerem em risco de derrame cerebral. Por isso, mais prioritária que a avaliação dos professores devia ser a avaliação dos alunos e de forma cada vez mais rigorosa e imparcial, com recursos a exames nacionais. Em toda esta problemática parece haver uma vaga de fundo positiva, quando se reconhece, mesmo que implicitamente, que o “eduquês” foi um fracasso e que é preciso voltar a dar alguma autoridade aos professores. Contudo, ainda é muito pouco porque o problema fundamental do ensino ainda não foi diagnosticado pela maioria. Grande parte dos problemas da Educação tiveram origem na sua excessiva centralização. Paradoxalmente, tal originou um caos que faz a maioria suspirar por decisões ainda mais centralizadas. Enquanto a caixa de Pandora a estiver aberta podemos esperar o pior.
MC
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