sexta-feira, maio 19, 2006

A conclusão do círculo

OPAS EXTREMAS

Há uma ideia aceite por muitos acerca das essências da Extrema-Esquerda (EE) e da Extrema-Direita (ED) serem idênticas, que penso estar correcta. Ambas defendem um Estado que tudo decide e tudo controla e por isso a propriedade dos meios de produção deve estar sobre a alçada do Estado – a isto se chama socialismo, na acepção original do termo. Mesmo no caso da Alemanha nazi, apesar de oficialmente a propriedade ser privada, todo o seu uso era decidido pelo Estado, pelo que se trata de um evidente caso de socialismo, o que não será de estranhar tendo em conta que o primeiro nome do partido nazi foi precisamente Partido Socialista dos Trabalhadores da Alemanha e mais tarde este partido ter recebido muitos inputs do Partido Comunista alemão. Mas admito existirem razões de pormenor para diferenciar entre ED e EE e, não indo mais longe, para diferenciar várias “extremas” do mesmo lado. Contudo, nos últimos tempos a EE veio assumindo posições que têm esvaziado a ED de qualquer marca distintiva, a que chamo abusivamente de uma OPA da EE sobre a ED. Para além da essência socialista comum, listo uma série de pontos onde ambas as extremas têm vindo a aproximar posições:

- Posição contra a invasão do Iraque;
- Anti-americanismo;
- Nacionalismo;
- Anti-semitismo.

Há ainda que acertar agulhas para a OPA se consumar. A xenofobia da ED é clara e de sentido único: Nós somos superiores a eles. Já a xenofobia da EE é demasiado confusa, dirige-se contra os EUA, Israel e mais recentemente contra as potências emergentes, que veio a tornar a EE nacionalista por arrasto. Por outro lado, a EE também defende uma xenofobia invertida disfarçada de multiculturalismo, que consiste em complexos de inferioridade face a culturas que até podem ter costumes bárbaros. Mas também existe a questão dos Skin-Heads (SH), que penso ser fácil de resolver. Originalmente os cabeças rapadas foram uma criação da EE. A EE critica os SH da ED por estes exercerem uma violência sem sentido. Os SH da ED terão que se cultivar e só exercer violência em causas socialmente justas. Mas a EE esquerda que se cuide porque pode cair sobre ela também uma OPA. O pioneiro das OPAS sobre a EE foi Freitas do Amaral, mas este esforço isolado está condenado ao fracasso. Já o trabalho do PSD deve ser seguido com atenção. A actuação do PSD no caso das maternidades foi uma autêntica OPA hostil sobre o BE. Acusar o ministro de “exterminador implacável de maternidades” e do governo ter uma lógica economicista é digno de um Francisco Louça. O PSD terá ainda que se esforçar mais até encontrar alguém que consiga falar com a mesma confiança que Francisco Louçã, e que consiga manter sempre aquele olhar douto mesmo quando não percebe a ponta de um corno sobre o assunto.

CASOS DE POLÍCIA

A cidade brasileira de S. Paulo esteve a ser testada pelo crime organizado e no final conseguiu chegar a um acordo com os representantes do povo. Podemos concluir que a iniciativa foi bem sucedida, quem sabe urdida por algum estudioso de Sun Tzu, mestre da arte da guerra (parece que sim, viam a saber mais tarde). É difícil conseguir ter a percepção aqui à distância e sem nunca ter visitado o local, de como as coisas se passam numa cidade com mais habitantes que Portugal. Contudo, o presidente Lula fez logo um diagnóstico sóbrio da situação, como é seu timbre. Disse que a culpa residia nas causas sociais, na falta de educação e com mais educação iria haver mais doutores e menos criminosos. Eu, que não tenho o mesmo nível intelectual que o presidente Lula, não consigo ver uma relação tão directa entre este acontecimento concreto e as “causas sociais”. Certamente é limitação minha, que apesar de conceder que o contexto social exerce uma grande influência sobre os indivíduos, estes não devem ser considerados marionetas que a tudo se desculpa. Até porque se as “causas sociais” são tão marcantes nos indivíduos, porque razão não existem 100 milhões de criminosos no Brasil? Por isso, atenho-me na minha visão limitada das coisas e acho que a culpa é dos culpados.

Um outro caso de polícia é a nova lei do arrendamento. Os juristas dizem-nos que devemos ler melhor o decreto-lei para não tirar conclusões precipitadas (mas como bem sabemos, só os juristas sabem ler as leis, por isso não percebo de que serviria). No âmago de tudo está a identificação da causa do problema, que vai recair nos malandros do costume, nos proprietários, capitalistas sem alma, que exploram até ao tutano os pobres dos inquilinos, com rendas que ascendem a 5 ou 10 euros, só para falar nos casos mais escandalosos. Portanto, há que obrigar os proprietários a fazer obras nas habitações, porque se não as fizeram antes é porque não quiseram, caso contrário, os chalets revertem a favor dos inquilinos que os puderem comprar, o que consiste numa espécie de “devolver a terra a quem nela trabalha”. Certamente por falta de capacidade de avaliar todas as variáveis envolvidas, a mim parece-me tudo um roubo descarado. Depois admirem-se que algum proprietário desesperado pegar numa Beretta e começar a dedicar-se à caça urbana. É claro que os inquilinos que pagam 2 euros de renda por mês e têm um todo-o-terreno à porta vão esfregar as mãos de contentes, mas os mais pobres ficam tão mal como estavam. Mas sabemos que o socialismo é mesmo isto, tirar aos ricos para dar aos espertos.

Um último caso de polícia é Cravinho, o super-ministro de Guterres, que ainda nos brinda amiúde com a sua sabedoria nos canais televisivos. Fui um simpatizante dos primeiros anos do 1º governo Guterres, talvez por ser muito jovem e ainda mais ignorante que hoje. Contudo houve algo que Cravinho disse e me pareceu muito estranho, apesar de na altura não ter “background” para perceber porquê em toda a sua extensão. Já na altura havia quem alertasse para os perigos das SCUT. Cravinho saiu-se com uma frase fantástica, dizia ele que se as coisas se passassem como no tempo do PSD (de Cavaco Silva) nunca mais se acabavam de construir as auto-estradas, porque só se construíam quando havia dinheiro para as pagar.
MC
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