quinta-feira, agosto 23, 2007

Guerra Cultural (5)

ACABAR COM O MITO DA FAMÍLIA

Pois bem, os cidadãos do mundo, que querem estar em harmonia com o meio ambiente, com as plantas e os animais, com todas as raças e credos (menos um…), têm alguma dificuldade em conceber essa coisa da família. É certo que alguns até dizem ter uma relação excepcional com os pais, consideram-nos amigos, nada aquela coisa antiga onde havia autoridade e castigos. Foram os pais que os levaram à discoteca pela primeira vez, que lhes falaram de sexo sem complexos. Se todos tivessem uma educação perfeita como esta só existiriam pessoas equilibradas e o mundo viveria em paz. Uma opinião que dizem ser abalizada por outros amigos de longa data, apesar de oficialmente desempenharem a função de psicólogos e psicanalistas.

Não é possível destruir por completo a consciência do indivíduo se não lhe afectarmos também as suas relações com o exterior, em especial com outros seres humanos. São raras as pessoas que conseguem ter uma mente ordenada se trabalharem num espaço caótico. Nunca encontram nada, não conseguem definir prioridades, não conseguem dar um rumo ao que fazem e por isso acabam por fazer tarefas insignificantes ou simplesmente a fazer parte dos planos de alguém. Em termos de consciência individual algo semelhante também ocorre. Se o indivíduo não reconhece qualquer noção de autoridade, se não tem ninguém a quem respeitar, se não distingue conhecidos, amigos, parentes e colegas, acaba por não ter qualquer exemplo ordenado no exterior que possa emular no seu anterior. Esta indiferenciação com que vê tudo à sua volta acaba por ser o espelho da sua alma, vazia, indecisa, sem luz, apesar do que possa aparentar.

O principal alvo, com o objectivo de destruir esta ordem exterior, é a família. A modernidade diz que já não há diferença entre pai e mãe, que aquilo que nos diziam ser natural eram apenas modelos impostos por culturas machistas e irracionais. De uma penada deita-se abaixo toda uma série de conhecimentos práticos acumulados durante milhares de anos, declarando que novos modelos têm a mesma validade, apesar de pouco ou nada experimentados. Mais do que pedir o benefício da dúvida, é exigido que se penalize abertamente a família tradicional, a começar pela eliminação de conceitos como pai e mãe.

Sobre a educação, recria-se o mito do bom selvagem ou, melhor, a noção platónica de que a alma renasce e não precisa aprender mas apenas recordar. Obviamente que os pedagogos modernos não têm a mesma sofisticação do sábio grego. Pensam que a chave de tudo é o estímulo da imaginação e inculcar uns quantos preceitos do totalitarismo correcto (conceito que substitui o politicamente correcto). Não é difícil prever que uma criança que cresce com pais que não querem desempenhar o seu papel irá sentir esta carência e tentará colmatá-la de alguma forma. Os desígnios da modernidade não deixarão isto a cuidado do acaso, como anteriormente. Candidatos naturais são os educadores profissionais. Pela vida fora o papel será desempenhado por burocratas especializados nessa função. Serão eles os únicos que darão alguma noção de ordem e autoridade.
As revoluções anteriores precisavam de indivíduos que emocionalmente nunca saíssem da adolescência e que utilizassem a revolta interior para justificar actos terroristas de sabotagem da sociedade. O totalitarismo democrático, pelo contrário, necessita de indivíduos que nunca cheguem a adolescentes e se mantenham crianças toda a vida.
MC
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