sexta-feira, julho 06, 2007

Candidatos a líderes de opinião

N’ O Insurgente, Patricia Lança divulgou alguns estudos sobre riscos de práticas sexuais como o sexo oral e anal. Alguns dias depois, Patricia Lança colocou uma pedra no assunto por estar cansada do falatório que se gerou. Pensei que se tinha tratado apenas dos esperados comentários jocosos sempre que matérias sexuais entram em cena, mas depois fui tropeçando numa série de posts sobre o assunto um pouco por todo o lado. Percebi que não se tratou de um epifenómeno mas de mais uma manifestação da contaminação no espírito das classes progressistas presentes em todos os credos políticos.

Como reagiria uma pessoa adulta e equilibrada sobre esta questão, supondo que considera importante manter na sua actividade sexual práticas anais e orais? Em primeiro lugar iria mostrar interesse, porque diz respeito a condutas que tem por rotineiras. Depois iria tentar cruzar estes dados com outros fidedignos, para poder fazer uma avaliação crítica. Caso se chegasse à conclusão que aquilo que veio a luz aponta para um risco acrescido, até aí desconhecido, impõe-se uma decisão. Decisão essa que pode ser manter exactamente os mesmos hábitos, por se considerar que se perde mais em alterá-los do que em os manter. Outras opções são a utilização de cuidados acrescidos, redução da frequência de certos actos e, no limite, a sua abolição, para não falar daqueles que até ficam mais tentados pelo risco. Tudo isto sem dramas mas assumindo as responsabilidades pelas suas opções.

Contudo, a quase totalidade das reacções assemelharam-se à da criança mimada que faz birra porque lhe tiraram o brinquedo favorito. A questão de fundo, exposta no parágrafo acima é totalmente elidida, o que interessa é denunciar os supostos planos maléficos de Patricia Lança, uma cruzada moralista, um preconceito anacrónico contra a homossexualidade. Mesmo que existisse uma intenção moralista e um preconceito contra o homossexualismo, o que é que isso alteraria a questão? É apenas relevante a qualidade dos argumentos e a clara distinção entre factos e palpites.

Este assunto merece ser comentado porque envolveu inúmeros candidatos a líderes de opinião, que hoje em dia se começam a recrutar nos blogs. Se eu disser ao Zé Tó do café da esquina que beber demasiada cerveja pode trazer-lhe problemas de saúde, ele certamente irá responder-me com um sonoro arroto. Em que se diferenciam estes bloggers progressistas (que hoje em dia já se encontram em todos os credos políticos) do Zé Tó , quando ao mínimo confronto com ideias que não lhes agradam também respondem com “arrotos mentais”?
Na realidade estou a ser injusto, existe aqui uma pretensão clara de afirmação que recorre aos meios mais eficazes que tem à sua disposição. Dizia Pacheco Pereira na “Quadratura do Círculo”, que o comportamento do Primeiro-ministro era o típico autoritarismo dos fracos. Quem ocupa locais de poder pode exercer esse autoritarismo de forma directa e fazê-lo reflectir em várias direcções por uma espécie de osmose, de forma mais ou menos dissimulada. Os candidatos a líderes de opinião que proliferam nos blogs em geral têm tanto poder como o comum cidadão, por isso necessitam de um simulacro de poder. Conseguem-no denegrindo e humilhando alguém a propósito de um assunto que desperte atenção. A destruição de carácter funciona nas duas direcções, obviamente diminuindo o acusado mas também colocando o acusador num patamar acima do qual realmente ocupa. A delação anónima ainda continua a ser mal vista, sinal de cobardia. Contudo, a delação frontal é hoje tomada como prova de força, audácia e discernimento. A consciência crítica diminuiu a tal ponto que hoje é valorizado o próprio acto de denúncia em si sem ligar aos seus fundamentos. Obviamente que isto configura uma sociedade numa constante fuga para a frente que mais tarde ou mais cedo irá ter um choque abrupto com a realidade.

MC

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