sexta-feira, agosto 03, 2007

Guerra cultural (1)

Na última revista Atlântico encontra-se um artigo que expõe alguns pontos de vistas do movimento “Compromisso Portugal”. Creio que não é exagero afirmar que já li as soluções ali apresentadas algumas centenas de vezes, com uma ou outra alteração, indo um pouco mais longe ou ficando aquém. E penso que a maioria dos leitores desta revista poderão dizer o mesmo. Há a ideia generalizada neste círculo de comunhão intelectual de que a mensagem ainda não passou para o grande público, o que não deixa de ser verdade, por isso há que insistir ainda muito mais. Mas a insistência não significa a repetição da mesma coisa vezes sem conta com poucas ou nenhumas alterações na forma.

Na página 20 da Atlântico de Agosto, a propósito da legislação laboral, consta o seguinte: «O objectivo deverá ser o de oferecer aos trabalhadores um outro tipo de segurança – a verdadeira segurança que lhes pode dar um ambiente económico mais dinâmico, mais recompensador das qualificações e do mérito e livre da sombra do desemprego de longa duração, onde seja possível aceder a mais e melhores empregos –, em vez da segurança ilusória da lei, materializada na vinculação ao mesmo posto de trabalho por toda a vida.» É explicado como se consegue isto? Vagamente e pela forma negativa. Um pouco mais à frente aparece: «O aumento das exportações dependerá da melhoria da competitividade dos produtos e serviços produzidos em território nacional. Ora, acontece que os custos unitários do trabalho em Portugal evidenciam uma tendência pouco positiva face aos nossos concorrentes.» E continua nesta linha de discurso, que chamaria de “economês macro”.

É objectivo desta série de posts mostrar que este tipo de discurso é presa fácil dos populismos de esquerda e direita, ecoando apenas junto àqueles que já estão plenamente persuadidos e, pela negativa, sobre os que nunca ficarão convencidos. O discurso populista é mais apelativo precisamente porque fala directamente às pessoas, às suas preocupações e sobre as suas situações concretas. Já o “economês macro” prefere falar em termos agregados, de indicadores globais, de pessoas que são reduzidas a números e de números que se reduzem a médias. As conclusões que daqui são retiradas para o indivíduo são tão genéricas e abstractas que se aplicam um pouco a todos mas ninguém se revê nelas. A efectivação do discurso só será possível se o enfoque passar a ser nas pessoas e nas suas acções. Contudo, a maior parte dos economistas irá fugir disto a sete pés com receio de serem considerados demasiado «austríacos».

MC

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