sexta-feira, junho 29, 2007

Provocações várias

A EUROPA A CAMINHO DO TOTALITARISMO

O documentário sobre Durão Barroso, que a RTP passou esta semana, conteve várias pérolas. Destaco apenas uma. A certa altura sobre os franceses que votaram contra o tratado constitucional disse-se serem «antieuropeus». Note-se que falamos do “voz off”, supostamente veiculando uma opinião imparcial e objectiva. São pequenas «achegas» como esta, omnipresentes no discurso jornalístico, que criam valores artificiais e tendências a que todos nos teremos de vergar, mais cedo ou mais tarde, que é como quem diz, ou a bem ou a mal. A adjectivação e a categorização utilizadas no momento certo são poderosas armas na luta contra a inteligência. Afinal, porque razão o voto contra um projecto de constituição é significa ser contra a Europa? Não será possível ser europeísta e simultaneamente céptico sobre certos caminhos que a União pode tomar? Aliás, não será mesmo uma obrigação?



SAI MAIS EUTANÁSIA

O debate aí está, desinteressante até à medula. E o que dizer sobre o actual estado da profissão médica? Qual o motivo para o respeito pelo «senhor doutor» estar a perder-se? A resposta é simples, os médicos já não se dão ao respeito. O respeito têm-se por pessoas que seguem uma ética acima da mediania. Apesar da maior parte dos portugueses terem votado favoravelmente um projecto abortista, ou terem-no deixado passar por se terem omitido, aos poucos irão perder respeito pelos médicos que fazem todo o tipo de abortos sem protestar, mesmo que as motivações sejam as mais fúteis, como tantas vezes são. De forma semelhante, a eutanásia irá tornar-se prática comum, aparecerá um vasto conjunto de médicos a falar da morte com toda a naturalidade. Por mais sofisticado que isto pareça, o comum dos cidadãos intuirá ali uma mentalidade de adolescente arrogante que não sabe nada da vida e, logo, nada merecedor de respeito. E cada vez mais pessoas vão se apercebendo que muitos médicos são uns sacanas descomunais, militantemente incompetentes e desactualizados, prescritores de medicamentos de segunda com os quais estão comprometidos e angariadores de operações desnecessárias apenas em proveito das suas contas bancárias. Não se deve desvalorizar o desaparecimento de um valor como o respeito. Tendo este sido já perdido em relação a padres, polícias e professores, o que restará? Adulação aos políticos e jornalistas? Estamos bem encaminhados, estamos…


E SE O ESQUERDISMO FOR UMA SOCIOPATIA?
Cada vez mais inclino-me para a hipótese do esquerdismo ser uma sociopatia. Para quem já se considerou de esquerda, como o autor deste post, mesmo sem ter aderido a qualquer partido ou movimento, não se trata de uma hipótese confortável porque nos leva, no mínimo, a admitir os vícios de raciocínio passados e perceber até que ponto estivemos perto, se não dentro, de uma loucura circular que nos acabaria por aprisionar até ao resto dos dias. Os indícios desta hipótese são inúmeros mas iria neste post deter-me apenas num.
A memória selectiva não é apenas apanágio da esquerda. Se a utilização da memória não fosse maioritariamente selectiva o ser humano rapidamente entrava em ruptura porque viveria numa constante abertura ao Todo e este estado de permanente iluminação rapidamente iria queimar o filamento da alma. Trata-se antes de uma mentalidade selectiva a característica que pretendo salientar. Mais que uma dualidade de critérios, que tem reminiscências para as arbitragens de futebol, a atitude esquerdista será antes bipolar. Pensemos na forma como os esquerdistas encaram os seus adversários. Existe uma facilidade enorme em colocar sobre eles toda uma série de acusações, mesmo sobre factos ou “factos” ocorridos muito antes do seu nascimento. No mínimo dos mínimos irá se recuar até à Inquisição e o adversário do esquerdista irá ter logo um odioso em cima como se ele mesmo tivesse condenado milhares de mulheres inocentes à fogueira. As acusações de fascismo e nazismo serão também inevitáveis, em especial quando se colocam em causa as pretensões igualitaristas do socialismo. O esquerdista tem a tentação incontrolável de ver isso como saudosismo dos campos de concentração. Qualquer tentativa de avaliar a História de forma imparcial será denunciada pelo esquerdista como prova de admiração por Salazar, por Pinochet e, mais recentemente, por esse tal de Bush. O adversário do esquerdista será também racista, homofóbico, imperialista, machista, reaccionário. Tudo epítetos que o esquerdista pensa resumirem bem o pensamento conservador ou neo-liberal.
Por outro, lado o esquerdista vê-se a si mesmo da forma mais imaculada possível. Apenas ele e os seus correligionários têm uma autoridade moral legítima, todos os outros são desprezíveis hipócritas. É extremamente curiosa a forma como os esquerdistas avaliam os crimes e erros revolucionários. Os mais inaptos avançam com a desculpa estafada de terem sido os homens a falhar e não as ideias. Este jogar à defesa convida a analisar as ideias e qualquer esquerdista rodado não irá por aqui. Por vezes, um longo silêncio basta e depois muda-se assunto. É impressionante como esta manobra elementar resulta mesmo em certos contextos, apesar de não todos. Um silêncio que não admite nada, obviamente, mas as pessoas minimamente educadas não irão aproveitar-se daquele aparente gesto de humildade.
Mas uma estratégia mais eficaz é jogar ao ataque, apontar falhas no lado oposto, reais ou imaginárias. Uma variante especialmente ardilosa é acusar os adversários das suas próprias falhas, o que psicologicamente pode mesmo dar azo a uma transferência do odioso. Os mais requintados jogam ao ataque de forma dissimulada. Começam a justificar as falhas do processo revolucionário com base em pormenores obscuros que quase ninguém ouviu falar, o que os permite monopolizar momentaneamente a discussão. Depois disso, com alguma arte retórica, é fácil construir uma teoria que dê a volta ao prego. Mas há ainda uma forma mais crua de lidar com o processo, simplesmente não admitir quaisquer falhas, mesmo nos crimes mais monstruosos, considerando que se tratou de uma etapa necessária à construção de um futuro radiante. Esta crueza é bastante comum dentro de certos grupos revolucionários, apesar de raramente ser utilizada para o exterior por razões óbvias.
O perfil aqui traçado do esquerdista, nada difícil de conferir, caso fosse atribuído a qualquer outra pessoa daria origem a um diagnóstico inequívoco.

ECLETISMO AUTO-LIMITADO
Apanho num zapping uma jovem afirmando-se muito eclética por ouvir rádios tão diferentes como a Mega FM, a Comercial e o RCP. Para o pessoal das tribos urbanas, que pensa e age em função de marcadores pavlovianos, talvez tenha sentido fazer esta destrinça entre rádios que transmitem essencialmente a mesma coisa. Mas eu ainda sou do tempo em que para se ter gostos ecléticos em termos musicais devia-se ouvir música erudita, jazz, música tradicional, música étnica, bossa nova e o vulgar pop/rock. Afinal, o azul, mais escuro ou mais claro, do céu ou dos olhos de uma bela mulher, continua a ser sempre azul. O que me despertou a atenção foi a utilização do termo «eclética», que me fez supor uma jovem com formação universitária. Longe de ser um exemplo isolado, ajuda a confirmar a ideia de que a universidade moderna forma pessoas que conseguem simular a posse de um pensamento sofisticado, quando na realidade são totalmente incapazes de um raciocínio rigoroso e de uma avaliação objectiva da realidade.
MC
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