sexta-feira, agosto 17, 2007

Guerra cultural (3)

A MODERNIDADE COMO PROJECTO REVOLUCIONÁRIO

Nos dois posts anteriores escrevi, a propósito da situação laboral, sobre o discurso “economês macro”, tão genérico que só é apelativo aos tecnocratas, e de algumas situações concretas que o indivíduo comum depara ante a perspectiva do desemprego. Seria quase expectável enveredar agora por uma síntese dialéctica, mas não o farei porque o verdadeiro objectivo destas reflexões está contido no título desta série. O problema de iniciativas como o Compromisso Portugal não é apenas a reduzida adequação do discurso à realidade das pessoas que votam. É um movimento que se pode classificar de combate de ideias mas que não faz qualquer guerra cultural nem sequer dá mostras de saber o que isso é. Pior do que ser presa fácil do populismo, iniciativas aparentemente liberalizantes podem ser facilmente incorporadas no movimento revolucionário.

Para a maior parte dos analistas a queda do muro de Berlim acabou com as utopias e os projectos de revolução. Os partidos marxistas vão-se tornando residuais em termos eleitorais, a China já é mais capitalista que comunista, Cuba espera apenas a morte de Fidel e Hugo Chávez é apenas um epifenómeno que irá desaparecer num ápice devido às contradições no sistema que vai criando. Ora, isto é uma visão simplista que tem dois erros de base. Por um lado parte do princípio que só são projectos comunistas os que tentam implementar no imediato a ditadura do proletariado e a socialização dos meios de produção, quando o próprio Marx achava que a transição levaria muitas gerações. O outro erro é achar que só existe projecto revolucionário se este for declaradamente marxista e tudo o resto não passa do natural devir da modernidade. Mas o que é essa modernidade se não um enorme projecto revolucionário já que pretende construir toda uma nova sociedade desde a raiz?

MC
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