sexta-feira, agosto 17, 2007

Guerra cultural (4)

TODO O PROJECTO REVOLUCIONÁRIO COMEÇA PELO FIM DO INDIVÍDUO

Neste e nos posts seguintes serão abordadas algumas das características da modernidade. A consciência individual é algo que perderá o seu sentido. O indivíduo vai deixar de prestar contas a Deus porque a educação dominante será anticlerical. Também não prestará contas à verdade porque o relativismo dominante garante que tal coisa não existe. Existe ainda uma interpretação “liberal” da questão que garante que todos têm direito a que a realidade se adapte às suas opiniões.

Mas este elidir da consciência individual é complementado pelo trabalho dos burocratas, que a troco de concessões “insignificantes” da nossa liberdade, vão garantir que todos terão uma vida saudável e feliz. O exemplo mais patente está na proibição de fumar que vai progressivamente se estendendo a mais locais, já se falando nas próprias habitações particulares. Já motivo de discussão é o combate à obesidade, com programas forçados para os gordinhos. Alguém pode duvidar que é tudo com boas intenções? Depois de vencidas as resistências das forças reaccionárias e atávicas da sociedade não há virtualmente limites para a regulação da vida privada de cada um. Depois dos gordos serão naturalmente os magros os visados, ninguém vai deixar de ter o peso correcto. Mas importante não é só a quantidade do que se come mas também a qualidade, por isso serão elaboradas listas dos produtos permitidos na culinária e fortes recomendações de como devem ser confeccionados e em que quantidades terão de ser servidos.

Mas se a aparência é assim tão importante, porque não obrigar todos a tomar pelo menos um banho diário? E a vestir-se de acordo com os padrões estéticos da sociedade. Mas não só de aparências vive o ser humano, há que alimentar-lhe o espírito, obrigá-lo a ler determinados livros, a não deixar de estar atento a certo jornal que tenha sido aprovado por um qualquer comité de sábios. Todos terão de ir a regulares sessões de grupo onde comprovem que seguem os ditames que lhe garantem a felicidade suprema.

Em suma, retirando ao indivíduo adulto algo transcendente a que tenha de prestar contas, Deus ou a Verdade, ele vai tornar-se numa criança. Será inseguro e com uma necessidade permanente de protecção contra a incerteza e por isso irá ansiar por mais e mais regulação e que a burocracia lhe diga exactamente o que tem de fazer em cada situação. E isto não só é possível em democracia como irá por ela ser potenciado.
MC
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