segunda-feira, julho 02, 2007

5 Livros

Coloco este post excepcionalmente à segunda-feira para responder ao repto do Hélder, ilustre membro de um dos blogs mais importantes da nossa praça, O Insurgente. Divulgo os últimos 5 livros que li, sem uma ordem temporal precisa.
“Socialism”, Ludwig von Mises – Por várias vezes tenho pensado que este talvez tenha sido o livro mais importante escrito no século XX. Foi o livro que afastou Hayek do socialismo e se isso não tivesse acontecido, “Road to Serfdom” nunca teria sido cogitado. E sem essa contribuição a revolução liberal de Reagan e Tatcher teria sido mais complicada, sendo incalculável até que ponto estaríamos um hoje mais pobres e menos livres. Mais do que ler este livro, vou andar a estudá-lo nos próximos meses. Até ao final do ano pretendo colocar uma série de posts que resumam “Socialism”, apesar do objectivo fundamental ser a obtenção de “insights” num estudo aprofundado sobre totalitarismo que descrevi alguns pormenores aqui.

“O Mito do Eterno Retorno”, Mircea Eliade – Para as civilizações arcaicas a realidade é a imitação do arquétipo celeste. O tempo profano é abolido e o homem projecta-se num tempo mítico em que os arquétipos celestes foram pela primeira vez revelados. A existência consiste num eterno retorno consumado nos rituais e actos importantes. A História, a série de eventos irreversíveis, é negada. O povo hebraico foi o primeiro a conceber um Deus que intervém dando sentido aos acontecimentos históricos. Contudo, mesmo depois da elaboração da filosofia da história por Santo Agostinho, a maior parte das populações cristãs, até hoje, tem dificuldade em aceitar a irreversibilidade dos eventos.

“Guia de Filosofia para Pessoas Inteligentes”, Roger Scruton – Porquê para pessoas inteligentes? Apesar de nem sempre as passagens serem fáceis, Scruton evita complicações desnecessárias tanto quanto possível. Fiquei com a sensação que o autor chama inteligentes às pessoas que têm a audácia de fazer as mesmas interrogações que ele. Ao ler a apresentação do livro fiquei com a ideia de que se tratava de um discorrer de vários temas sem grande relação entre eles. Contudo, trata-se de uma construção progressiva onde os temas mais profundos vão sendo desvendados com a ajuda dos predecessores. Apesar de os comentários ao livro situarem Scruton na esteira de Kant e Wittgeinstein, quem o conhece sabe que temos antes de tudo um admirador de Edmund Burke.

“As Putas do Diabo”, Armelle Le Bras-Chopard – Leitura após ter lido a crítica de Rui de Albuquerque no Portugal Contemporâneo.
Vale pela hipótese levantada sobre quem realmente tomou as rédeas da Inquisição. Contrariando a opinião comum, defende-se que a Inquisição foi sobretudo dominada pelo poder secular quando construía o Estado moderno. Figura central foi Jean de Bodin, que concebeu importantes livros políticos mas, o que poucos sabiam, também escreveu um tratado sobre «demonologia», onde defendia a estatização dos processos judiciais.

“Logoterapia e Análise Existencial”, Viktor E. Frankl – Não confundir com literatura de auto-ajuda. A Logoterapia, criada por Viktor Frankl, é considerada a terceira escola de psicoterapia. O que distingue a Logoterapia de outras formas de psicoterapia é o seu enfoque na busca de sentido. Devido a isso teve de sofrer o desprezo e o escárnio de psicanalistas, marxistas, pragmatistas, estruturalistas, desconstrucionistas e outras tribos do género, estes sim, autênticos criadores de mazelas do espírito. Contudo, Frankl não desprezou a psicanálise de Freud nem a psicologia da Adler nem sequer rejeitou a validade dos fármacos, uma vez que era um homem de ciência, neurologista e psiquiatra. Só que achava que isso não era tudo, a busca para o sentido da existência abriria outras portas para a cura do indivíduo. Uma visão do ser humano que foi testada da forma mais bárbara quando Frankl foi prisioneiro dos campos de concentração nazi.
Deveria agora colocar uma lista de bloggers a quem lançaria um desafio idêntico. Contudo, o serviço de difusão em redes “mesh” é efectuado com mais eficácia por servidores de maior capacidade.
MC
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