sexta-feira, junho 01, 2007

Cobardia e o destino do mundo

Schopenhauer afirmou que era destino das verdades passarem por três fases, a primeira delas a ridicularização, depois a oposição violenta e, por último, a aceitação como óbvias. Contudo, este percurso não é só apanágio das verdades mas de todo o tipo de ideias. Em especial, as ideias que não são verdadeiras têm a fase da oposição bastante mitigada. Quem diria há 10 anos atrás que iriam existir programas nacionais contra a obesidade, que seriam aprovadas leis que iriam violar a propriedade privada em nome do combate ao tabagismo, que as próprias penalizações por fumar seriam maiores que as aplicadas ao consumo de drogas pesadas, que o combate ao racismo, à discriminação dos homossexuais e das mulheres seria feito através de políticas discriminativas em nome da igualdade e por aí fora?

Uma das causas que já está em marcha, por enquanto de forma convenientemente tímida, é a tentativa de que a pedofilia seja progressivamente aceite. Para isso nada melhor que a sábia utilização da linguagem. O processo já é conhecido, arranjar uma terminologia inócua para descrever o pedófilo e outra ofensiva para quem o critica. A habituação é progressiva, os escritores vão começando romancear a pedofilia, vão aparecendo estudos que “provam” que é uma coisa natural no ser humano, e em poucos anos o Bloco de Esquerda estará a colocar cartazes no meio das cidades, com um pedófilo asqueroso beijando a face de uma criança e um dizer condenando quem discrimina aquela relação de amor.

Argumentar que estas movimentações rumo ao abismo são apenas fruto do engano é ser demasiado ingénuo. As democracias actuais transformaram-se na prática num sistema fechado, dominado por uma elite que não assume o poder que tem. Já não são as massas que, bem ou mal, influenciam a direcção da governação. As elites tomam o lugar dos profetas porque, supostamente, interpretam a vontade do povo. Na realidade, a única coisa que as identifica não é o conhecimento nem a virtude, mas a capacidade de reduzir a vontade do povo às suas pretensões.

Pensemos nas supostas alterações climáticas. Seriam as elites, se fossem autênticas, as primeiras a rejeitar o estabelecimento de um consenso que não admite vozes discordantes. Fazem precisamente o oposto. São os primeiros a utilizar todos os meios para lançar descrédito nas posições cépticas, não por via da argumentação sobre a matéria em causa mas pelo ataque às motivações, ou seja, pela difamação encoberta. Apesar destas elites dominarem a quase totalidade dos meios de comunicação social, serem apoiados por fundações bilionárias e muitas vezes pelos Estados, serem uma coqueluche de Hollywood, tem a cara de pau de encerarem a farsa de serem os fracos, oprimidos e os únicos com coragem para denunciar a “verdade inconveniente”, que de resto é a única que o grande público tem acesso. A farsa tem proporções que desafiam a imaginação humana e aqueles que viram a ponta do iceberg sentem-se tão pequenos que são confrontados com um dilema. Ou começam a denunciar a fraude, e é fácil de prever que serão esmagados, ou aderem ao lado “inconveniente”. Claro que aderir à fraude, por mais confortável que seja, levanta sempre algumas inquietações morais. Estas resolvem-se se os indivíduos convenceram-se que sempre estiveram do lado “certo”.

Voltando ao início, podemos distinguir o que diferencia o percurso de aceitação das verdades em relação ao das fraudes, sejam elas intelectuais ou morais. Não é a fase inicial da ridicularização que é diferente. Qualquer ideia nova que ponha em causa o estabelecido, seja certa ou errada, causa estranheza. Na fase seguinte, as ideias verdadeiras tentam impor-se pelos seus próprios méritos. Esta luta no domínio da razão é árdua porque enfrenta a oposição dos raciocínios viciados, que só pode ser vencida com grande tenacidade. Com as fraudes, o processo intermédio é bastante diferente. Não existe confronto de ideias, já que a fraude nunca é totalmente explícita para não se expor demasiado. A ideia a passar está implícita e o processo visa sobretudo protegê-la do escrutínio da razão. O que acaba por ser óbvio no final é a existência de uma coacção moral tão grande que constrange fortemente quem tiver pretensões de se opor ao embuste.

MC
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