sexta-feira, março 02, 2007

Somos todos “socretinos”

Lê-se com frequência nos blogs que os partidos à direita do PS não têm feito oposição ao governo digna desse nome. Muitos também advertiram que o referendo ao aborto é uma jogado política de Sócrates para dar um ar de esquerda, ao mesmo tempo que criou um facto político que tornou irrelevante qualquer outra discussão sobre a governação do país. Acontece que o referendo já passou e os blogs que supostamente se encontram à direita do governo continuam com uma postura passiva.

Estará assim tudo tão bem? Não há factos políticos a comentar? Assim, de repente, lembro-me de alguns. Começando logo pelo aborto, o PS fez as alterações à lei com a ajuda da extrema-esquerda. Não há comentário a fazer à suposta modernidade nem aos idiotas úteis não esquerdistas que estiveram do lado do “sim”? Há poucos dias tivemos o debate mensal no parlamento onde consta que Sócrates fugiu com o rabo à seringa. Não despertou interesse no grosso da blogoesfera. Temos também o anúncio da proibição de fumar em certos locais privados de acesso público. Indiferença generalizada, a defesa da liberdade já deve começar a cansar. A questão dos voos da CIA também não está completamente esclarecida. Silêncio sobre o assunto. As urgências hospitalares também não interessam aos bloggers deste país, que começo a perceber que não gostam de misturas com o país real. Temos ainda uma taxa de desemprego das mais elevadas nas últimas décadas. Enfim, um blogger no desemprego sempre tem mais disponibilidade para “postar”.

A blogoesfera não tem que seguir a agenda mediática do governo. Nunca o fez e daí a sua riqueza. Contudo, nos últimos tempos os nossos melhores bloggers têm agido quase como se não tivéssemos governo e vivêssemos numa gestão corrente descentralizada, sem turbulências. Há vários blogs que se dedicam explicitamente à análise das actualidades, especialmente no campo político (não é propriamente o caso deste modesto blog). No entanto, quem faça uma consulta genérica percebe que as únicas actualidades que andam a ser seguidas são as que se passam “lá fora”. Encontrará também interessantes discussões académicas com uma escassa ligação com a realidade presente ou, dito de outra forma, discussões em que os seus intervenientes não mostram grande emprenho em relacioná-las com a realidade que vivemos.
MC

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