segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Bjørn Lomborg sobre as escolhas fundamentais (III)

Bjørn Lomborg continua, explicando sucintamente o processo do “Copenhagen Consensus”.

Convidamos 30 dos maiores economistas mundiais, três para cada área. Três economistas de topo escrevendo sobre alterações climáticas, o que podemos fazer? Quais são os custos e os benefícios? Da mesma forma para as doenças contagiosa e assim por diante. Depois, em Maio de 2004, na Dinamarca, 8 dos maiores economistas do mundo, incluindo três laureados com prémio Nobel, avaliaram as propostas e elaboraram a lista de prioridades.

Podem perguntar, porquê economistas? É uma boa questão. O ponto é que, se querem saber sobre malária devem ir perguntar a um especialista em malária, se querem saber sobre clima dirigem-se a um climatologista. Mas se querem saber a qual devem dar primazia não podem perguntar a nenhum deles, porque não é isso que fazem, essa é a tarefa dos economistas. Estabelecem prioridades, o que se deve fazer primeiro e o que deixar para depois.

A lista estabelecida pelo “Copenhagen Consensus”, que quero partilhar convosco, diferencia entre maus projectos, onde o investimento de 1 dólar origina um retorno inferior a 1 dólar. E depois há projectos razoáveis, bons projectos e projectos muito bons e é natural que se comece por estes.

Então vamos começar pelo fim da lista e depois subimos até aos melhores projectos. Como podem ver, no fim da lista estão as alterações climáticas. Isto deixa muitas pessoas ofendidas e é bom falarmos sobre isto. Dizer que o protocolo de Kyoto é uma má opção tem a ver com a sua eficiência muito reduzida, não quer dizer que não existe aquecimento global [essa é outra conversa], nem que não se trata de um grande problema mas sim que o que podemos fazer é muito pouco e tem um custo muito elevado. O que os modelos macroeconómicos nos mostram é que o Protocolo de Kyoto, se todos concordassem com ele, custaria 150 mil milhões de dólares por ano. É uma grande quantidade de dinheiro, que representa duas ou três vezes a ajuda aos países em vias de desenvolvimento, todos os anos. O que os modelos mostram é que o Protocolo de Kyoto consegue retardar o aquecimento em 6 anos no ano 2100. Isso significa que as pessoas no Bangladesh, que ficariam com inundações em 2100, poderiam esperar até 2106, o que é positivo mas não ajuda muito.

Então devemos gastar muito dinheiro para ter um retorno assim tão modesto? Como referência, a ONU estima que com metade do que se gastaria no Protocolo de Kyoto, 75 mil milhões de dólares por ano, poderíamos resolver todos os problemas básicos do mundo, água potável, redes sanitárias, cuidados de saúde e educação para todos os seres humanos do planeta. O que nos devemos perguntar é se queremos gastar o dobro e não provocarmos grandes melhorias ou apenas metade e ter um resultado incrivelmente positivo? [A construção da frase não está completamente correcta mas percebe-se facilmente o sentido da pergunta.] E é essa a razão da classificação como mau projecto, não quer dizer que se tivéssemos todo o dinheiro do mundo não o faríamos, mas como não temos não pode ser a nossa prioridade.

Nos projectos considerados razoáveis temos o fornecimento de cuidados básicos de saúde. Neste caso os efeitos são bastante positivos mas os custos são também muito elevados. Isto deve levar-nos a começar a pensar nos dois lados da equação. Entre os bons projectos temos a construção de redes sanitárias e de água potável, que são coisas muito importantes mas têm também custos elevados.

Gostaria de falar dos projectos no topo, que deviam constituir as nossas prioridades. O quarto melhor projecto está relacionado com a malária. Todos os anos são infectadas cerca de 500 milhões de pessoas com esta doença, o que para as nações onde a incidência é maior representa gastos que são uma fracção importante do produto interno bruto. Investindo cerca de 13 mil milhões de dólares nos próximos 4 anos poderíamos reduzir a incidência para metade, impedir a morte de 350 mil pessoas e, talvez ainda mais importante impedir a contaminação de quase 1 bilião de pessoas todos os anos. Iríamos aumentar significativamente as suas possibilidades de lidarem com os outros problemas com que se defrontam, a longo termo até com o aquecimento global.

O terceiro melhor projecto tem a ver com o comércio livre. O que os modelos mostram é que com o comércio livre e cortando subsídios na União Europeia e nos Estados Unidos a economia mundial ir-se-ia avivar com incrível ganho de 2400 mil milhões de dólares por ano, metade dos quais em favor dos países do terceiro mundo. Isto quer dizer que poderíamos tirar da pobreza 200 ou 300 milhões de pessoas muito rapidamente, num prazo de 2 e 5 anos. Esta seria a terceira melhor coisa que podíamos fazer.

O segundo melhor projecto diz respeito ao combate à má nutrição, não a má nutrição em termos gerais, mas há uma forma bastante acessível de lidar com o problema combatendo a falta de micro-nutrientes. Cerca de metade da população mundial tem carências de ferro, zinco, iodo e vitamina A. Investindo 12 mil milhões de dólares podíamos melhorar muito esta situação.

E o melhor projecto seria o que tem o foco no HIV/SIDA. Basicamente investindo 27 mil milhões de dólares nos próximos 8 anos poderíamos evitar 28 milhões de novos casos da doença. É preciso realçar que há duas formas muito diferentes de tratar do HIV/SIDA, uma o tratamento e a outra a prevenção. Num mundo ideal poderíamos fazer ambas mas devemos perguntar onde devemos investir primeiro e o tratamento é muitíssimo mais caro que a prevenção. O que isto nos diz é que podemos fazer muito mais investindo na prevenção, obtendo benefícios 10 vezes superiores para gastos equivalentes.

(Cont.)
MC
|