sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Pensamento economicista

O SEMÁFORO

O semáforo em questão é complicado. Permanece fechado uma “eternidade” e quando abre é apenas por uns escassos segundos. Já há bastante tempo na fila, que era bem maior atrás de mim do que a que estava adiante, aparece um carro num acesso secundário à direita. A sua intenção era também meter-se quando o sinal abrisse. Não lhe permiti a veleidade. Porquê? Mau feitio, pressa, desatenção, marcar o território? Nada disso, apenas uma questão de justiça.

Vejamos o que aconteceu. Quando o semáforo abriu, o automóvel atrás de mim foi o último a conseguir passar. Se tivesse deixado entrar o oportunista da direita, o que estava atrás de mim não teria conseguido prosseguir, apesar de já esta há bastante mais tempo à espera. Mais que isso, eu mesmo poderia não ter conseguido passar o semáforo porque a gentileza de deixar passar teria feito perder um tempo precioso.

Mas o não deixar passar não é uma regra geral. Baseia-se também na noção intuitiva de que quem tenta “meter-se na fila”, nestas situações, o consegue fazer com facilidade. Existem situações particulares em que se percebe que “tentar entrar” é extremamente difícil e aí a decisão podia ser outra. Outras situações mais complexas podem apoiar a decisão de “deixar entrar”, por exemplo, quando desbloqueiam alguma situação de tráfego.


CASAS DE BANHO

Pouca gente dá-se ao trabalho de analisar com seriedade a problemática das casas de banho públicas versus privadas. Quantos de nós, mesmo numa situação de aflição, não terão uma certa relutância em utilizar os sanitários públicos? As condições de higiene levantam dúvidas justificadas, nos piores casos prenunciadas à distância por via olfactiva. No seu interior encontramos com frequência números de telemóvel de almas caridosas que prestam os seus serviços a camionistas. E também é um bom local, a partir de certas horas da noite, para encontrar o tarado da zona em intensa actividade manual.

Quem não tiver uma ideia radicalmente diferente das casas de banho privadas, na sua maioria as que temos em casa, deve questionar seriamente a qualidade das suas relações sociais e o seu próprio estilo de vida. Em geral, a casa de banho de cada um é um local suficientemente agradável para manter a leitura em dia. O incentivo para cuidar das próprias coisas é incomparavelmente maior que o que sentimos para tratar de tudo o que se encontra na esfera pública. A limpeza da casa de banho em cada domicílio é da responsabilidade de cada agregado familiar. Cada acção descuidada tem consequências quase imediatas, o que não ocorre no sanitário público, para além de um peso na consciência, que só pode ter lugar para quem a possui.

Não confundir as casas de banho públicas com as casas de banho privadas de acesso público, como as dos centros comerciais. Nestas existe o interesse do administrador das instalações em as manter tão limpas e agradáveis quanto possível. Quando esse interesse não existe ele irá perder clientes. Nos mais diversos sectores existe a argumentação que tenta mostrar que a privatização leva à perda de qualidade dos serviços e que estes serão um privilégio dos mais favorecidos. Comparemos as casas de banho públicas e, para simplificar, as privadas de acesso público. Em geral, quais as mais fáceis de encontrar e quais apresentam melhor qualidade?
MC

Etiquetas:

|