sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Semiramis, um ano depois do fim

Precisamente há um ano atrás, em 2 de Fevereiro de 2006, era publicado no blog Semiramis o artigo “12ª Medida Anti-burocracia”. Durante cerca de 4 meses este post, em nada excepcional em relação ao resto do blog, recebeu 2133 comentários. Os primeiros comunicados na caixa de comentários informando do falecimento da Joana, não foram levados a sério. A autora transparecia uma jovialidade e vitalidades contagiantes, mesmo para quem com ela não concordava. Não havia muito tempo o Semiramis tinha sido eleito o melhor blog de direita de 2005, numa votação promovida pelo O Insurgente. A Joana não concordaria totalmente com o rótulo “direita” mas compreendia que as divisões entre direita e esquerda facilitavam as classificações. Esta distinção é notável para um blog individual que concorria com outro blogs colectivos de peso, em particular o Blasfémias.

Mas o percurso do Semiramis nunca foi fácil. Os registos mais antigos do blog datam de 2 Outubro de 2003, onde estão publicados vários posts que terão sido escritos anteriormente. Em cerca de dois anos e meio terão sido publicados 1246 posts. Obtive este número somando os números que constam no blog na lista do “Arquivo por Secções”. Caso alguns posts tenham sido classificados em mais que uma categoria este número estará inflacionado. O que quero salientar é o ritmo impressionante de publicação da Joana, no mínimo diário. E não se tratavam de posts curtos, pelo contrário, a sua dimensão era quase sempre bem longa em relação ao que é costume encontrar nos blogs e mesmo em jornais, não raras vezes.

Os posts sobre análise económica e política constituíam o grosso do Semiramis. Mas é justo distinguir os artigos sobre História onde a Joana nos mostrava que podíamos aprender alguma coisa com o passado se para isso estivéssemos dispostos. O estilo da Joana era directo, vivo, sem receios de infringir os cânones do politicamente correcto. Enfrentava sem temor e com lucidez os que a criticavam, frequentemente de forma insultuosa. No primeiro post de 2005 começa por escrever: «Neste início de ano venho aqui formular uma promessa, a mim própria e a quem me lê, gostando ou não: Não desisto.» Era uma mensagem clara para os alarves que pensavam que lhe dobravam o espírito com as suas manobras boçais.

Contudo, consta que a Joana na «vida real» não assumia a autoria do seu blog, supostamente para não prejudicar a sua vida profissional e, quem sabe, social. Não podemos saber ao certo as verdadeiras razões deste recato. A Joana defendia insistentemente a liberdade, a redução do peso do estado, a urgência em realizar reformas e desmontava as falácias do intervencionismo. Até que ponto vivemos numa sociedade doente quando ideias como estas dificilmente podem ser defendidas em público sem receber-se de imediato um conjunto de insultos como reaccionário, «neo-liberal» ou fascista. Essa mesma sociedade onde se manifesta cada vez mais o xenofobismo (sobretudo anti-semita e anti-americano), onde o terrorismo é olhado com uma complacência cada vez maior e onde os ditadores progressistas não são poupados a elogios.

Nos próximos posts mais sobre conteúdo do Semiramis.
MC
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