segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Bjørn Lomborg sobre as escolhas fundamentais (II)

Em Fevereiro de 2005 Bjørn Lomborg fez esta apresentação, onde em 17 minutos explicou o fundamental do “Copenhagen Consensus” (ver post anteior). Não sendo uma iniciativa completamente imune a críticas, tem a virtude de chamar a atenção para uma série de questões que normalmente ficam esquecidas quando se abordam os grandes problemas da humanidade. Segue-se uma tradução “livre” desta apresentação, onde se procura ser fiel a todas as ideias apresentadas, apesar do muito trabalho criativo necessário não só para traduzir o inglês para português mas também as adaptações necessárias da passagem do discurso falado, que se pode recorrer de gestos e entoações, para o discurso escrito mais limitado nesse sentido.

Quero-vos falar dos grandes problemas do mundo, não do”
The Skeptical Environmentalist”, provavelmente também uma boa escolha [risos na plateia]. Antes de continuar, peço que peguem em papel e caneta. A matéria de fundos são os muitos problemas existentes no mundo, referindo apenas alguns mais relevante: Existem 800 milhões de pessoas que sofrem de fome, mil milhões com escassez de água potável, 2 mil milhões sem instalações sanitárias, dois milhões que morrem de SIDA por ano, 175 milhões de migrantes, 940 milhões de adultos iletrados e vários biliões [terminologia americana, em que um bilião corresponde a mil milhões] serão afectadas pelo aquecimento global.

Existem realmente muitos problemas. Num mundo ideal iríamos resolve-los todos, mas na realidade não o podemos fazer. E sendo assim, a questão que penso que devíamos colocar a nós mesmos é, se não podemos fazer tudo quais são as coisas que devíamos resolver em primeiro lugar? E é essa a questão que vos quero colocar, se tivéssemos 50 mil milhões de dólares para gastar nos próximos 4 anos, para melhorar este mundo, onde os devíamos gastar?

Identificamos 10 grandes desafios para a humanidade: alterações climáticas, doenças contagiosas, conflitos, educação, instabilidade financeira, governação e corrupção, fome e má nutrição, população: migração, água e cuidados sanitários, subsídios e barreiras alfandegárias. Acreditamos que este conjunto reúne os grandes problemas do mundo. A questão que parece óbvia de ser feita é, quais são as matérias fundamentais? Por onde devíamos começar? Mas esta é uma abordagem errada, também seguida em Davos, onde se coloca a ênfase apenas nos problemas […]. A abordagem correcta não é ter uma lista de prioridades dos problemas mas sim das suas soluções. Para as alterações climáticas temos o protocolo de Kyoto, para as doenças contagiosas clínicas e redes de mosquitos, para os conflitos forças de segurança da ONU, etc. Neste cenário mais complexo peço-vos a tarefa impossível de, em 30 segundos, traçar as prioridades mas também, e aqui recai o odioso sobre os economistas, aquilo que deve ficar no fundo da lista.

O que pretendo nestes 18 minutos é colocar-vos a pensar neste processo de prioritização.E devíamos questionar porque razão nunca tinha sido feita uma lista como esta. E uma razão é que a prioritização é extremamente desconfortável, ninguém a quer fazer. Todas as organizações quereriam estar no topo desta lista mas, ao mesmo tempo, todas as organizações iriam detestar não estar no topo da lista. E como existem muito mais lugares no fundo do que no topo, faz todo o sentido não querer fazer a lista [e sofrer a inevitável impopularidade]. A ONU existe quase há 60 anos e nunca elaboramos uma lista das grandes coisas que podemos fazer no mundo e estabelecer as que devemos fazer primeiro.

Mas isto não quer dizer que não estejamos a fazer um processo de prioritização, cada decisão é o estabelecimento de uma prioridade. Mas estamos a fazê-lo de forma implícita e é muito improvável que isso seja uma melhor solução do que uma prioritização feita de forma consciente e discutida. Durante muito tempo tivemos uma situação em que onde havia muitas escolhas, muitas coisas que podíamos fazer, mas não tínhamos nem os custos nem os” tamanhos”. Para ter uma ideia, era como ir a um restaurante, ter um menu enorme mas sem preços. Imaginem pedir uma piza, não sabem o preço, pode ser um dólar, podem ser mil, pode ser uma familiar ou então uma fatia individual. Nós gostamos de saber estas coisas e é isso que o “Copenhagen Consensus” tenta fazer, colocar preços nestes itens.

(Cont.)

MC
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