Notas finais sobre o referendo ao aborto (II)
O que vai acontecer depois do referendo é uma incógnita, qualquer que seja o resultado. É possível conceber uma vitória do “não” com uma despenalização da Assembleia da República. Pode também ocorrer uma vitória no “não” e a lei ficar como está mas, aos poucos, começar a ser interpretada de maneira mais lata, como se faz em Espanha. Justificar o aborto por razões psicológicas foi uma porta aberta já há vários anos, até agora não aproveitada, mas não se vê grandes razões para que não o seja. Não estou a dizer que o deva ou não ser, apenas que é uma possibilidade que mesmo muitos defensores do “não” já identificaram.
Por outro lado, uma vitória do “sim” também tem as suas incógnitas. O facto do PS não assumir claramente o que vai fazer com esse resultado (curiosamente Sócrates disse o que faria com o “não”) indicia que a intenção do governo é liberalizar e subsidiar o aborto. Contudo, penso que isto não é claro. Mesmo que muita gente no PS tenha esta intenção, e mais à esquerda nem se consegue conceber outra possibilidade, a incógnita está no Primeiro-ministro. Ninguém sabe muito bem o que pensa Sócrates mas o que sabemos é que, aquilo que é a sua vontade será aquilo que será feito. Acho que é muito provável que Sócrates queria apenas a despenalização do aborto e não mais que isso, mas até agora não o confessa para não criar confusão à esquerda.
O que há de comum em todos os cenários é que conduzem a uma facilitação do aborto. No limite, o cenário mais favorável para o “não” será ficar tudo como está, mas mesmo isso não é muito plausível se pensarmos que Badajoz está a duas horas de Lisboa. Não se viu nos últimos anos ninguém pedir uma maior protecção para o feto. Há quem defenda a diminuição do número de abortos por via racional, via planeamento familiar, conhecimento dos métodos contraceptivos, etc. O conhecimento é indispensável mas só por si vale pouco. Mulheres cultas e informadas evitarão o aborto de vão de escada mas só o evitarão em outras condições se valorizarem a vida desde a sua concepção. É muito mais cómodo tomar um medicamento abortivo de seis em seis meses do que ter cuidados diários com métodos contraceptivos.
Por outro lado, uma vitória do “sim” também tem as suas incógnitas. O facto do PS não assumir claramente o que vai fazer com esse resultado (curiosamente Sócrates disse o que faria com o “não”) indicia que a intenção do governo é liberalizar e subsidiar o aborto. Contudo, penso que isto não é claro. Mesmo que muita gente no PS tenha esta intenção, e mais à esquerda nem se consegue conceber outra possibilidade, a incógnita está no Primeiro-ministro. Ninguém sabe muito bem o que pensa Sócrates mas o que sabemos é que, aquilo que é a sua vontade será aquilo que será feito. Acho que é muito provável que Sócrates queria apenas a despenalização do aborto e não mais que isso, mas até agora não o confessa para não criar confusão à esquerda.
O que há de comum em todos os cenários é que conduzem a uma facilitação do aborto. No limite, o cenário mais favorável para o “não” será ficar tudo como está, mas mesmo isso não é muito plausível se pensarmos que Badajoz está a duas horas de Lisboa. Não se viu nos últimos anos ninguém pedir uma maior protecção para o feto. Há quem defenda a diminuição do número de abortos por via racional, via planeamento familiar, conhecimento dos métodos contraceptivos, etc. O conhecimento é indispensável mas só por si vale pouco. Mulheres cultas e informadas evitarão o aborto de vão de escada mas só o evitarão em outras condições se valorizarem a vida desde a sua concepção. É muito mais cómodo tomar um medicamento abortivo de seis em seis meses do que ter cuidados diários com métodos contraceptivos.
Por isto tudo, penso que são é possível combater o aborto directamente, excepto numa sociedade totalitária. Numa sociedade livre só é possível fazê-lo através da interiorização de valores. Mas a vida em sociedade em relativa liberdade é algo recente, de uma enorme fragilidade e o próprio valor da liberdade é desprezado com frequência. Em grande parte, as sociedades livres são laboratórios onde as forças totalitárias vão impondo aos poucos e de forma aparentemente natural as suas ideias colectivistas e niilistas. São estas pessoas que são normalmente identificadas como os portadores dos valores da modernidade. É um cozer a lume brando, de início até parece agradável.
MC
Etiquetas: aborto, niilismo empenhado, Voto inútil
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