segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Bjørn Lomborg sobre as escolhas fundamentais (IV)

Última parte da transcrição/tradução da apresentação de Bjorn Lomborg.

O que nos diz isto sobre a nossa lista de prioridades? Olhando para a vossa lista de prioridades, condiz com os resultados que apresentamos ou aproxima-se deles? Voltando novamente ao tema das alterações climáticas, há muitas pessoas que acham que devíamos tratar desde problema quanto mais não seja por ser um grande problema. Mas nós não podemos tratar de todos os problemas, são demasiados. O que gostaria de transmitir é que, se nos focamos nos problemas devemos seleccionar os certos, aqueles onde podemos fazer a diferença e não os em que pouco podemos influenciar.

Thomas Schelling, um dos participantes do “dream team” [oito peritos responsáveis pela lista de prioridades], salientou muito bem uma coisa que as pessoas esquecem, que daqui a 100 anos, quando a maior parte dos impactos das alterações climáticas se fará sentir, as pessoas serão muito mais ricas. Mesmo as previsões mais pessimistas da ONU estimam que em 2100 o nível médio de vida dos cidadãos nos países em desenvolvimento serão iguais aos nossos [trata-se de um nórdico a falar para americanos]. O mais provável é que sejam duas ou três vezes mais ricos que nós agora e claro que nós ainda seremos mais ricos. Por isso, quando falamos em ajudar as pessoas no Bangladesh em 2100 não estamos a falar de “bangladeshis” [não encontrei a designação portuguesa] pobres mas sim em ajudar holandeses ricos. Por isso a questão é se queremos gastar imenso dinheiro para dar uma ajuda ligeira a holandeses ricos daqui a 100 anos ou se queremos ajudar hoje as pessoas no Bangladesh, que são realmente pobres, que precisam mesmo de ajuda e a podemos fornecer de forma muito pouco dispendiosa.

Schelling também colocou o seguinte cenário, imaginem que estão em 2100 e são um chinês, um boliviano ou um congolês rico, como eles serão. Irão lembrar-se das decisões tomadas em 2005 e pensarão como foi bizarro que se tenham preocupado tanto em ajudar-me a mim um pouco, com medidas de combate às alterações climáticas, mas tenham feito tão pouco para ajudar o meu avô ou o meu bisavô, que podiam ter ajudado muito mais e necessitavam dessa ajuda.

Isto mostra-nos a importância em estabelecermos as prioridades mesmo que isso vá contra a forma típica como vemos estas coisas. Isto deve-se aos bons filmes que existem para chamar atenção para as alterações climáticas, como “The day after tomorrow”,que é uma boa peça de entretenimento, agora não esperem ver o Brad Pitt num próximo filme a limpar latrinas na Tanzânia, não é muito apelativo para nós. De várias maneiras o “Copenhagen Consensus” e toda esta discussão sobre prioridades faz a defesa dos problemas chatos e desinteressantes e faz-nos perceber que esta discussão não tem como objectivo fazer-nos sentir bem, não é fazer aquelas coisas que têm mais atenção mediática mas sim escolher os locais e as situações onde mais podemos ajudar.

Os críticos dizem que estamos a estabelecer falsas escolhas, que é um falso dilema. Num mundo ideal certamente concordo que devemos atender a todos os problemas, mas não é esse o caso. Em 1970 o mundo desenvolvido disse que iríamos gastar actualmente o dobro em ajuda aos países do terceiro mundo, contudo a ajuda passou para metade [suponho que com as actualizações necessárias] e por isso não me parece que estejamos no bom caminho para resolver os grandes problemas. Algumas pessoas falam da guerra do Iraque, onde se gastaram 100 mil milhões de dólares, que podiam ser utilizados para melhorar o mundo. Se alguém conseguir convencer Bush em ir por aí, também alinho. Mas ainda assim, com mais 100 mil milhões de dólares devemos gastá-los da melhor forma possível e teremos de voltar à lista de prioridades.

É esta a melhor lista possível? Para além de termos perguntado a alguns dos melhores economistas do mundo, fizemos paralelamente as mesmas perguntas a 80 jovens à volta do mundo. O requerimento é que fossem estudantes universitários e falassem inglês. A maior parte eram de países desenvolvidos. A surpresa foi que a lista que elaboraram foi bastante similar, com a má nutrição e as doenças no topo e as alterações climáticas no fundo. Já repetimos isto muitas vezes em seminários, com estudantes universitários e os resultados são muito semelhantes. E isso dá-me confiança para dizer que existe um caminho adiante que nos leve a começar a pensar em prioridades e perguntar o que é realmente importante no mundo. Claro que num mundo ideal, volto a dizer, iríamos adorar resolver todas as situações, mas não o podendo fazer, o que deve vir em primeiro lugar?

Vejo o “Copenhagen Consensus” como um processo, com os primeiros resultados em 2004. Para 2008 e 2012 esperamos reunir muito mais pessoas,e melhor informação e traçar o caminho certo para o mundo. Mas também começar a pensar na triagem política, optar não pelas coisas onde podemos fazer muito pouco com um custo muito elevado, nem por aquelas que não sabemos como fazer, vamos antes optar pelas coisas que produzam os maiores benefícios, com um custo reduzido e que comecemos a fazer isso de imediato. No final do dia podem discordar da forma como elaboramos as prioridades mas temos de ser francos em honestos em admitir que se há algumas coisas que fazemos, outras terão de deixar de ser feitas, se nos preocupamos demasiado com algumas coisas, outras ficarão esquecidas. Então, espero que isto [ao mesmo tempo que faz um gesto que se supõe ser para o slide que apresenta as conclusões finais, mas que no fundo simboliza toda a apresentação e o “Copenhagen Consensus”] nos ajude a definir melhores prioridades e a pensar como trabalhar melhor em prol do mundo. [aplausos]
MC
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