quinta-feira, abril 13, 2006

A semana antecipada

O título do post pode dar a entender que se fará uma revisão da semana, mas o objectivo é apenas referenciar a antecipação de um dia do post semanal. Nada de ver a semana em perspectiva, dos maus tratos infantis, das barafundas com António Costa, nem o escândalo monumental no programa “Petróleo por alimentos”, que revela as razões “altruístas” de muitos que se opuseram à invasão do Iraque. Nada disto é relevante. Nada. O passado só é relevante quando se tem condições éticas, para não dizer morais, para se extrair as devidas conclusões. Caso contrário, tudo é possível, pode-se cometer um massacre justificando que foi um acto cometido para evitar outro massacre no passado. Sem um nível mínimo de ética, não há reconhecimento da obscenidade presente nos dois actos, mascarada por pormenores insignificantes.

Pretendo com isto fazer uma breve reflexão sobre a difusão de informação pelas redes de computadores e, em particular, na blogoesfera, a sua vertente mais orgânica e pulsante. E sobre as suas duas faces opostas. A blogoesfera marca o fim das hegemonias, das filtragens editoriais castradoras. Num pequeno meio como Portugal, com escassa massa crítica, medo de pensar e décadas de propaganda socialista (cristã, marxista e, recentemente, niilista), o aparecimento dos blogs constituiu uma novidade sem precedentes. De alguns blogs, claro, alguns que começaram a raciocinar sobre o óbvio, a apontar falhas no Deus Estado, a analisar as consequências de medidas até aí dadas como indiscutíveis, que não embarcavam num carneirismo anti-capitalista totalmente acéfalo e baseado no ódio.

Quando falo dos blogs a pessoas que têm pouco conhecimento sobre o meio, quase sempre colocam uma dúvida alarmante. Mas se os blogs não têm meios de controlo, não se tornarão totalmente incontroláveis, meros depósitos de insultos gratuitos, denúncias anónimas sem qualquer credibilidade, veículos destrutivos da reputação de qualquer um? A realidade diz que não. Aqui e ali há casos de evidente má fé cobarde, com fins puramente destrutivos. Mas são casos raros e muito menos frequentes que na imprensa tradicional, dita séria mas que raramente o é. Porque um bloguer procura também ser respeitado pelos seus pares. Mesmo quando há confrontos ideológico renhidos, os bloguers raramente se digladiam muito para além do plano das ideias.
Contudo, em termos de comentários não é bem assim, especialmente os anónimos. A ausência de confronto directo, olhos nos olhos, tem consequências evidentes. Tem uma consequência muito positiva, do debate não estar restringido apenas aos mais eloquentes e com “poder de choque”. Qualquer pessoa com boas ideias pode ver o seu mérito reconhecido. Contudo, qualquer pessoa com má fé também tem o seu caminho facilitado. Ninguém o pode barrar, muito menos a sua escassa consciência. São pessoas que até se adivinham pacatas no seu trato directo, mas na ausência de barreiras, nem de ter de enfrentar “o outro” directamente, disfarçam a sua falta de coragem com o insulto fácil.
MC
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