Uma semana, um post
A partir de hoje este blog passa a ter uma actualização semanal, excepto posts ocasionais que justifiquem maior urgência. Esta colocação semanal adapta-se melhor à disponibilidade existente em comentar os assuntos pelos quais o blog adestra.
UM ANO DE GOVERNO
Esta avaliação será curta, porque não sou aquilo que se pode chamar de observador atento. As duas marcas imprimidas por Sócrates são o pragmatismo e a determinação. Não são características necessariamente positivas. O pragmatismo está em utilizar os meios mais directos para atingir os fins esperados. Isso incluiu a mentira descarada e as promessas irrealistas para ganhar eleições, e a criação constante de factos para manter a popularidade. É o lado sujo da política, mas duvido que actualmente se possa viver sem ele.
Mas é na determinação do governo que se pode atestar quais as suas ideias concretas. Determinação para os disparates da OTA e do TGV. Determinação para casos complicados como a co-incineração. Mas também determinação em algumas medidas positivas, de desburocratização, de redução do peso do Estado, de uma maior contenção nos custos, no aumento da idade da reforma. Tem havido alguma coragem em enfrentar os interesses instalados, mas quase tudo ainda são intenções declaradas longe da fase da implementação. É preciso esperar para ver.
Pela primeira vez em Portugal, existe um governo de esquerda que é realmente moderado. Sócrates acredita no estado social e no investimento público, nisso não enganou ninguém. Mas há também a consciência que o modelo social actual é insustentável e há que tomar medidas para evitar o seu colapso, como aumentar a idade da reforma, permitir uma maior colaboração dos privados e racionalizar as funções do estado. Pode não ser um sonho de um liberal, mas a direita actual nunca deu mostras de poder ir mais longe. A questão dos investimentos públicos é mais delicada. O governo tenta agradar a todos, por um lado aos estatistas afirmando que é necessário o investimento estatal para estimular a economia, mas também aos mais liberais, recorrendo ao argumento que o maior parte do investimento virá de privados. Contudo, é quase certo que este investimento privado terá uma cobertura semi-oculta por parte do Estado, que garanta que o investimento será sempre rentável. Para além do investimento estatal não contemplar o custo de oportunidade, há sempre o problema das derrapagens, que costumam ser astronómicas por cá.
Por último, há ainda um grande mérito deste governo em ter construído uma imagem de credibilidade em pouco tempo, não só aos olhos do eleitor distraído mas também de observadores mais atentos. Não é uma questão meramente racional, mas de um clima que se cria. Recordemos que o PS ganhou as eleições mais por demérito dos adversários do que por mérito próprio. Depois, neste governo está alguma da “tralha guterrista”, que foi entretanto reabilitada. Nos meses iniciais, as trapalhadas do governo foram tantas que eclipsaram as do governo de Santana. Mas uma maioria absoluta, comunicação social benévola, sindicatos acanhados, ecologistas adormecidos, governo com uma comunicação eficaz e, ainda, uma Presidente da República que é a alma gémea do Primeiro-Ministro, fizeram com que o governo pareça credível. Mesmo um caso aberrante com Freitas do Amaral deve ser visto com cuidado. Aqueles que esperam ansiosamente pela sua demissão, é bom que tenham paciência, porque estão a esquecer da popularidade que este ministro tem actualmente.
JOVENS EM PROTESTO
Novo Maio de 68 em França. Já o outro foi um flop, porque quem foi alvo dos protestos acabou por ganhar as eleições. Aparentemente, é uma nova lei, que visa a facilitar os despedimentos nos 2 primeiros anos, que está a ser a causa de toda uma série de protestos por parte dos jovens. A medida visa o combate ao desemprego nos jovens, claramente mais alto do que nas faixas etárias superiores. A lógica é simples, se os empregadores não puderem despedir, preferem não contratar ou contratar trabalhadores mais velhos que possam dar mais garantias. Entende-se que muitos jovens possam ficar apreensivos e têm o direito em protestar, apesar não de forma destrutiva. São dois anos de insegurança, onde não é possível fazer planos mais alargados. Por outro lado, a lei não garante que os melhores terão emprego. Muitos incompetentes espertalhaços safam-se sempre e roubam o lugar a quem “merece”. Além disso, trata-se de uma medida discriminatória.
Contudo, terá um governo legitimidade para tomar tal medida? Penso que a questão é inversa. Onde não houve legitimidade foi em criar uma estabilidade artificial. O estado comporta-se como mãe e pai de todos. É natural que os meninos mimados façam birra. Sendo a França a pátria espiritual do estatismo democrático, estas reacções são bastante naturais. Que os protestos tenham excedido largamente o que seria legítimo, parece não incomodar ninguém. Ao invés, há que tentar encontrar uma desculpa legítima para isso, como se faz também para o terrorismo. O resultado é que a irresponsabilidade é estimulada, e quem quer contratar um irresponsável? O mais caricato é que aqueles que protestam desta forma, dizendo que a lei é injusta, só têm conseguido provar o contrário.
UM ANO DE GOVERNO
Esta avaliação será curta, porque não sou aquilo que se pode chamar de observador atento. As duas marcas imprimidas por Sócrates são o pragmatismo e a determinação. Não são características necessariamente positivas. O pragmatismo está em utilizar os meios mais directos para atingir os fins esperados. Isso incluiu a mentira descarada e as promessas irrealistas para ganhar eleições, e a criação constante de factos para manter a popularidade. É o lado sujo da política, mas duvido que actualmente se possa viver sem ele.
Mas é na determinação do governo que se pode atestar quais as suas ideias concretas. Determinação para os disparates da OTA e do TGV. Determinação para casos complicados como a co-incineração. Mas também determinação em algumas medidas positivas, de desburocratização, de redução do peso do Estado, de uma maior contenção nos custos, no aumento da idade da reforma. Tem havido alguma coragem em enfrentar os interesses instalados, mas quase tudo ainda são intenções declaradas longe da fase da implementação. É preciso esperar para ver.
Pela primeira vez em Portugal, existe um governo de esquerda que é realmente moderado. Sócrates acredita no estado social e no investimento público, nisso não enganou ninguém. Mas há também a consciência que o modelo social actual é insustentável e há que tomar medidas para evitar o seu colapso, como aumentar a idade da reforma, permitir uma maior colaboração dos privados e racionalizar as funções do estado. Pode não ser um sonho de um liberal, mas a direita actual nunca deu mostras de poder ir mais longe. A questão dos investimentos públicos é mais delicada. O governo tenta agradar a todos, por um lado aos estatistas afirmando que é necessário o investimento estatal para estimular a economia, mas também aos mais liberais, recorrendo ao argumento que o maior parte do investimento virá de privados. Contudo, é quase certo que este investimento privado terá uma cobertura semi-oculta por parte do Estado, que garanta que o investimento será sempre rentável. Para além do investimento estatal não contemplar o custo de oportunidade, há sempre o problema das derrapagens, que costumam ser astronómicas por cá.
Por último, há ainda um grande mérito deste governo em ter construído uma imagem de credibilidade em pouco tempo, não só aos olhos do eleitor distraído mas também de observadores mais atentos. Não é uma questão meramente racional, mas de um clima que se cria. Recordemos que o PS ganhou as eleições mais por demérito dos adversários do que por mérito próprio. Depois, neste governo está alguma da “tralha guterrista”, que foi entretanto reabilitada. Nos meses iniciais, as trapalhadas do governo foram tantas que eclipsaram as do governo de Santana. Mas uma maioria absoluta, comunicação social benévola, sindicatos acanhados, ecologistas adormecidos, governo com uma comunicação eficaz e, ainda, uma Presidente da República que é a alma gémea do Primeiro-Ministro, fizeram com que o governo pareça credível. Mesmo um caso aberrante com Freitas do Amaral deve ser visto com cuidado. Aqueles que esperam ansiosamente pela sua demissão, é bom que tenham paciência, porque estão a esquecer da popularidade que este ministro tem actualmente.
JOVENS EM PROTESTO
Novo Maio de 68 em França. Já o outro foi um flop, porque quem foi alvo dos protestos acabou por ganhar as eleições. Aparentemente, é uma nova lei, que visa a facilitar os despedimentos nos 2 primeiros anos, que está a ser a causa de toda uma série de protestos por parte dos jovens. A medida visa o combate ao desemprego nos jovens, claramente mais alto do que nas faixas etárias superiores. A lógica é simples, se os empregadores não puderem despedir, preferem não contratar ou contratar trabalhadores mais velhos que possam dar mais garantias. Entende-se que muitos jovens possam ficar apreensivos e têm o direito em protestar, apesar não de forma destrutiva. São dois anos de insegurança, onde não é possível fazer planos mais alargados. Por outro lado, a lei não garante que os melhores terão emprego. Muitos incompetentes espertalhaços safam-se sempre e roubam o lugar a quem “merece”. Além disso, trata-se de uma medida discriminatória.
Contudo, terá um governo legitimidade para tomar tal medida? Penso que a questão é inversa. Onde não houve legitimidade foi em criar uma estabilidade artificial. O estado comporta-se como mãe e pai de todos. É natural que os meninos mimados façam birra. Sendo a França a pátria espiritual do estatismo democrático, estas reacções são bastante naturais. Que os protestos tenham excedido largamente o que seria legítimo, parece não incomodar ninguém. Ao invés, há que tentar encontrar uma desculpa legítima para isso, como se faz também para o terrorismo. O resultado é que a irresponsabilidade é estimulada, e quem quer contratar um irresponsável? O mais caricato é que aqueles que protestam desta forma, dizendo que a lei é injusta, só têm conseguido provar o contrário.
MC
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