Prós e Contras – Rescaldo psicológico
Este programa é um bom barómetro para avaliar o nível médio do debate que um cidadão mediano é capaz de engolir. O último programa, referente ao 1º ano do governo em funções, teve alguns aspectos interessantes de avaliar. O que parecem ser tendências positivas ou negativas podem ser sinais enganadores e é preciso avaliá-los com cuidado. Por um lado, parece positivo que o cidadão médio tenha entranhado ideias como a do Estado não criar riqueza, a subida de impostos prejudicar a economia e que a redução do défice dever ser feita pelo lado da despesa e não confiando apenas no aumento da receita.
Contudo, o aplauso ao discurso demente de Carlos Carvalhas parece deitar tudo isto por terra. Carvalhas falou nos escandalosos lucros da banca e chegou mesmo a dizer que andamos todos a trabalhar para esta gente ignóbil. A eficácia deste tipo de comentário baseia-se num erro de base mas também num apelo emocional. O erro de base é supor que a economia é um jogo de soma nula e, como tal, se uns tiveram lucros é porque outros tiveram que os “ajudar”. Ajuda a consolidar este erro descrever o mercado essencialmente como uma competição permanente. E em competição pura, inspirada no modelo desportivo, ganha-se, perde-se ou empata-se (o que está mais perto da derrota do que da vitória). Mas o mercado é também cooperação. De forma mais correcta, o mercado é o “local” onde os diversos agentes competem entre si para obter uma maior quota de cooperação.
Mas ainda mais caricato é não querer ver que o lucro pode dever-se ao mérito de ter feito melhor, de ter gasto menos para oferecer o mesmo, de ter reduzido o desperdício. É realmente trágico que o desperdício do Estado não mereça grandes críticas mas o seu combate pelos privados sim.
Carvalhas também foi eficaz devido ao seu apelo emocional implícito. Apelo à inveja, aos sentimentos baixos que não querem ver os outros estarem melhor que nós. É curioso serem aqueles que justificam toda a sua acção na defesa dos pobres estarem realmente motivados contra os ricos.
Face a estas constatações contraditórias, chego à conclusão que a opinião popular não se baseia minimamente na razão. Pelo menos, a racionalidade não é levada às últimas consequências, o que conduziria a uma avaliação das contradições. A evidente contradição em achar que devem ser os privados e não o Estado a criar riqueza e, ao mesmo tempo, achar muito mal o aumento dos lucros de alguns privados. O esforço a fazer é repetir tantas vezes as mesmas ideias que elas passam a ser naturais para as pessoas, mesmo que não sejam minimamente apreendidas.
Contudo, o aplauso ao discurso demente de Carlos Carvalhas parece deitar tudo isto por terra. Carvalhas falou nos escandalosos lucros da banca e chegou mesmo a dizer que andamos todos a trabalhar para esta gente ignóbil. A eficácia deste tipo de comentário baseia-se num erro de base mas também num apelo emocional. O erro de base é supor que a economia é um jogo de soma nula e, como tal, se uns tiveram lucros é porque outros tiveram que os “ajudar”. Ajuda a consolidar este erro descrever o mercado essencialmente como uma competição permanente. E em competição pura, inspirada no modelo desportivo, ganha-se, perde-se ou empata-se (o que está mais perto da derrota do que da vitória). Mas o mercado é também cooperação. De forma mais correcta, o mercado é o “local” onde os diversos agentes competem entre si para obter uma maior quota de cooperação.
Mas ainda mais caricato é não querer ver que o lucro pode dever-se ao mérito de ter feito melhor, de ter gasto menos para oferecer o mesmo, de ter reduzido o desperdício. É realmente trágico que o desperdício do Estado não mereça grandes críticas mas o seu combate pelos privados sim.
Carvalhas também foi eficaz devido ao seu apelo emocional implícito. Apelo à inveja, aos sentimentos baixos que não querem ver os outros estarem melhor que nós. É curioso serem aqueles que justificam toda a sua acção na defesa dos pobres estarem realmente motivados contra os ricos.
Face a estas constatações contraditórias, chego à conclusão que a opinião popular não se baseia minimamente na razão. Pelo menos, a racionalidade não é levada às últimas consequências, o que conduziria a uma avaliação das contradições. A evidente contradição em achar que devem ser os privados e não o Estado a criar riqueza e, ao mesmo tempo, achar muito mal o aumento dos lucros de alguns privados. O esforço a fazer é repetir tantas vezes as mesmas ideias que elas passam a ser naturais para as pessoas, mesmo que não sejam minimamente apreendidas.
Mas aquilo que digo em relação ao indivíduo mediano é também válido para a esmagadora maioria dos intelectuais. Eu diria mesmo que no caso dos intelectuais ainda é mais difícil o diálogo racional. Estes, para além de emocionalmente serem tão susceptíveis como qualquer mortal e de caírem também nos mesmos erros base, são frequentemente de uma arrogância extrema. Se apanhados em contradição nas suas próprias ideias ou com os factos, ao invés de tentarem procurar a sua resolução (o que poderá implicar abandonar algumas convicções), preferem uma fuga para a frente, utilizando toda uma série de estratégias tão bem conhecidas como patéticas.
MC
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