sexta-feira, maio 11, 2007

Unidos perderemos

O que têm em comum a discussão sobre o aborto, a crise na câmara de Lisboa e a aprovação da nova lei sobre o fumo? Na minha opinião, o que há em comum é uma subserviência implícita dos grandes partidos ao politicamente correcto. Acontece que o politicamente correcto é como o Diabo, a sua maior artimanha é fazer-se passar por inexistente. Já se viu alguém a defender o politicamente correcto de forma explícita?

O politicamente correcto aparece como um imperativo social e quem a ele se opõe passará por retrógrado, ignorante e sem consciência social. Dessa forma, defender o aborto livre, a eutanásia, a liberalização de drogas duras, a proibição crescente do fumo, discriminar positivamente mulheres, gays e minorias étnicas, desvalorizar a religião e as instituições tradicionais, tornam-se acções só por si merecedoras de valor. O debate em seu torno é cada vez mais difícil e quanto mais mediático for o meio de comunicação, mais estreita é a gama de opiniões que podemos assistir.

Mesmo aqueles que se opõem a tanto «progressismo» adoptam uma postura em que, a cada intervenção, antes de expressarem os seus pontos de vista, concedem algum tempo para elogiar o ponto de vista contrário. Tentam assim apagar a má imagem que acham que as suas posições «conservadoras» lhes associa inevitavelmente. Este jogar à defesa provoca uma reacção do lado oposto que é, naturalmente, o jogar ao ataque. Não é difícil aos «progressistas» ridicularizar os «conservadores» que já se encontram de cócoras.
O povo não perceberá os pontos mais elaborados da discussão, nem conseguirá detectar as falácias, quando não mentiras deliberadas do processo, mas perceberá este jogo de forças. Percebe logo que há uma parte que está derrotada à partida e por isso aceita, com naturalidade, que o conjunto de medidas «progressistas» é mesmo inevitável. Portugal, que alguns dizem reger-se por uma democracia liberal que serve um povo ainda bastante conservador, é na verdade um rectângulo em revolução permanente, que destrói a cada dia que passa as suas realizações sociais em nome de uma proposta de futuro nunca escrutinada. O problema lusitano é o medo de ficar mal na fotografia. É realmente cobardia de discordar de viva voz. Pior ainda, é nem ter a decência de duvidar.

MC
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