sexta-feira, dezembro 22, 2006

Jean-François Revel (12)

ANTIGLOBALIZAÇÃO E ANTIAMERICANISMO (I)

O movimento antiglobalização é um renovar da causa marxista, bem vincado na oposição à livre circulação de bens e serviços a pretexto de tal abertura conduzir a um empobrecimento global e à concentração do poder num número cada vez mais reduzido de capitalistas. Não se trata de um combate de ideias, se é que alguma vez o foi, já que os manifestantes limitam-se a espalhar o caos e a destruição por onde passam. A maior parte das pessoas nem se apercebe que é obrigada a contribuir para este espectáculo, a partir dos impostos que lhes são retirados de forma coerciva e transferidos para organizações, ironicamente chamadas não governamentais, que assumem-se como organizadoras do movimento.

Não é um acaso a ocorrência das manifestações antiglobalização coincidir com as datas das reuniões de governantes de países livres. Há uma clara tentativa de tentar impedir a reuniões pela intimidação. A violência que ocorre é justificada pela presença de grupos anarquistas minoritários, que estranhamente conseguem sempre persuadir a maioria “pacífica”. A vitimização não se fica por aqui já que as autoridades serão sempre acusadas de excesso de uso da força. O recurso à violência não se faz por esta ser a única opção que os manifestantes têm à sua disposição. A quase totalidade dos participantes provém de países democráticos, onde possuem direito de voto, de associação, onde podem criar partidos políticos e exprimir as suas ideias de forma pacífica. Mas o que os manifestantes pretendem é substituir a democracia pela força, tomar as rédeas do movimento anticapitalista que se confunde com a revolta antiamericana. «Os jovens que estão contra a globalização são na verdade ideologicamente velhos, fantasmas ressurgidos de um passado de ruínas e sangue.» Nem sequer procuram disfarçar, mostrando abertamente os símbolos da foice do martelo, a sigla das brigadas vermelhas ou as omnipresentes imagens de Che Guevara.

As contradições são evidentes. Atacando a liberdade política e económica, são os primeiros a aproveitarem-se delas, deslocando-se livremente para qualquer parte do mundo (que criticam) e desfrutam de um nível de vida em geral desafogado. Em Seatle manifestaram-se contra o capitalismo selvagem que supostamente só serve os ricos, quando o que estava a decorrer era precisamente uma reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC) com o objectivo de definir regras para tornar as trocas internacionais menos selvagens. Essa mesma OMC que tanto diabolizam é a mesma que os países pobres tentam desesperadamente aderir com vista à saída das situações de miséria. O que os partidários da antiglobalização querem omitir é que os países pobres não querem menos mas sim mais globalização. Querem que os países abastados levantem as suas barreiras proteccionistas para poderem aumentar as suas exportações para o primeiro mundo.
MC
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