segunda-feira, maio 02, 2005

Onde está a verdadeira ameaça?


A televisão pública vai promover uma debate sobre a “invasão chinesa”. Para nos apelarem para a visualização do dito programa, fazem-nos uma contextualização didáctica. Dessa forma, alarmam-nos para a previsível perda de empregos em Portugal nas empresas que não são competitivas mas também falam das possibilidades de investir neste novo mercado.

Como sabemos, em determinadas questões, o ser humano reage de forma reptiliana, e só em último caso utiliza o neo-córtex. Nesta situação, haverá a tendência ara entrar em pânico e pensar que boa parte dos nosso postos de trabalho estarão em perigo (e na verdade estão, só que devido a outras razões). Sobre a oportunidade de investir na China, ou pensando no mercado chinês, uma vez que somos um povo dado ao negócio mas não à empresa (ou dito de outra forma, que gosta de aproveitar o que fazem os outros e ficar com a parte fácil do processo), não verão aqui os portugueses qualquer janela de oportunidade.

A discussão deste assunto é repetidamente, nos media tradicionais, vista apenas nestes dois vectores. Esquecem das vantagens que já hoje temos por a China se ter tornado num grande produtor mundial. De forma directa ou indirecta, temos vindo a consumir cada vez mais produtos fabricados na China. Temos beneficiado com a descida de preços numa miríade de artigos, e essa descida só não é maior devido ao proteccionismo.

Os riscos que nos falam, da perda de empregos, são também vistos com a habitual miopia. Não negando que seja um problema a médio prazo, será que queremos manter mesmo aquelas empresas que agora estão mais ameaçadas? Tratam-se de alguns dos piores trabalhos que temos, duros e monótonos. Queremos condenar novas gerações a essa escravidão? É uma oportunidade para outros voos. Falam-nos do risco, mas alguém venceu na vida sem ter enfrentado riscos?

Esses trabalhos, que já nos pesam demasiado, serão para milhares de chineses uma oportunidade de melhoria significativa no nível de vida. Esta Europa, que se diz tão social e solidária, arranja desculpas para impedir a natural progressão chinesa. Porque será que as pessoas tem sempre medo do que lhes faz bem? A ameaça existe, mas não está nos chineses, mas neste propagandistas da ignorância.

MC

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