Órfãos de Papa (3)
O fenómeno mediático que agora termina, que começou nos últimos dias de vida do Papa foi, sem dúvida, aquele que mais atenções despertou a propósito da morte de uma única pessoa. Todas as pessoas que ouvi falar sobre o assunto, ao vivo, mostraram-se chocadas pelo excesso de mediatismo, que já não suportavam a situação, que era uma exploração dos acontecimentos quase pornográfico.
Penso que são reacções meio perdidas, pouco lúcidas, que têm urgência em julgar e pouca paciência para compreender. Não é minha pretensão compreender mas apenas descrever o que vejo e algumas conclusões que tiro. Em grande parte, penso que todo o aparato que vimos era inevitável. Alguém poderia evitar que tivesse acontecido? Poderia o Vaticano ter fechado portas? poderiam as autoridades italianas ter fechado a cidade, proibido a presença de jornalistas? Poderia alguém ter impedido a migração de tantos fieis que de deslocaram até Roma, de todos os locais do mundo?
Criticam as televisões que estavam em cima do momento, sempre à espera de apanhar o último suspiro do Papa. Horas consecutivas sempre com o mesmo assunto, como se o mundo tivesse parado. A lógica das TV é mesmo essa, só não percebo é o assumir que os espectadores tenham que seguir o mesmo caminho. Nestas duas semanas, se juntar todos os minutos que vi relacionados com a questão, seguramente não perfazem uma hora. Cada um é livre de fazer o que quiser, pode desligar a TV, pode não comprar os jornais. Parece que ainda não se percebeu que a responsabilidade pertence a cada um de nós, não somos obrigados a ser paus mandados.
Os anti-clericais aproveitaram para se fazer corajosos, quererendo destoar daquilo que pensam ser a multidão. É certo que agora os media falam de um Papa quase divino, sem mácula. Percebe-se que tudo é levado pela rama, ninguém refere os textos escritos pelo Papa, naturalmente por nunca os terem lido. Fácil é meter tudo no saco, e os críticos lembram-se logo de puxar o assunto da inquisição.
E acho que fazem muito bem, porque a inquisição explica muito daquilo que somos, nós portugueses. Tratasse, evidentemente, de um assunto muito pouco religioso, uma mancha que a igreja católica carrega consigo, como muito bem soube ver este Papa. Mas o mais curioso é que o espírito da inquisição ainda se mantém em Portugal, já não dentro da igreja, mas precisamente em muitos que a instituição. Os novos inquisidores encontram-se na extrema-esquerda, nos movimentos anti-sistema, nos ecologistas radicais. Preocupo-me muito mais com o mediatismo destes últimos.
MC
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