quarta-feira, abril 27, 2005

Promessas a não cumprir


O anúncio deste governo de levar para diante o Plano Tecnológico deixou-me perplexo. Não foi pela falta de rigor jornalístico, que confundiu o anunciar do Plano com a sua realização e assim dar por cumprida uma das promessas eleitorais. Estas afirmações são compreensíveis em jornalistas, que realmente não fazem nada de útil e terão dificuldades em destrinçar entre querer fazer e fazer mesmo.

A minha perplexidade foi outra. Percebi, com toda a clareza, que Sócrates (e boa parte do PS) acredita mesmo no que prometeu. Tenho cá para mim que não há maior tragédia do que nos levarmos demasiado a sério. Sócrates não faz juz ao seu nome e mostra-se um homem cheio de certezas. E mais que isso, parece querer encabeçar um movimento de re-fundação da esquerda moderna, talvez fazer de Portugal um exemplo para o mundo. Parece que um relatório de um banco alemão já ficou convencido de tal...

A re-fundação da esquerda não pode deixar de passar da substituição de uma ilusão por outra. A nova esquerda não pode voltar ao braço esticado, às lutas de antigamente. Esta esquerda pensa ter dado um passo em frente, mantendo as “boas intenções” do passado, dos revolucionários, mas adaptadas a um mundo moderno. Já não negam o mercado, mas querem controlá-lo, apesar de tudo, por forma a manter o modelo social. Bem sei que reina aqui um fervor quase religioso, uma certeza de estarem no lugar certo, de serem mais humanos que esses horríveis neo-liberais (e invisíveis, porque não se vêem em lado algum).

Este tipo de políticos serão talvez os piores que podemos ter. Riscos bem menores corremos com os vulgares demagogos, que mudam de modelo pragmático conforme as necessidades de momento, contentando-se a satisfazer as suas necessidades e as dos amigos e ajudantes de percurso. Este tipo de políticos, detestáveis, é certo, são tão erráticos que no fundo mantêm-nos no mesmo lugar onde estávamos. Contudo, o político que acredita firmemente nas suas ideias, acaba por tomar uma série de medidas coerentes que aos poucos nos levam todos pelo mesmo caminho.

O caminho de Sócrates é simples. Parece novo mas não é. É a eterna ilusão do controlo, que se renova em mil e uma formas diferentes. A ilusão de pensar que se têm as melhores soluções e que todos devem segui-las. A ilusão de que é possível moralizar o mercado com medidas exemplares, que sirvam de guia quase espiritual para todos. Se tudo correr mal, certamente não se culparão a eles. O dedo será apontado novamente às forças do mercado, aos empresários, a quem trabalha e cria riqueza, mas nunca às suas ideias.

MC

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