A procura do pai protector
Em várias artes em que intervenha uma relação mestre/discípulo, é bem conhecido o perigo do efeito da busca do pai. Acontece a muitos indivíduos que, ao invés de fazerem da arte uma forma de fortalecer o espírito, uma melhoria contínua e desapegada, fazem antes um jogo emocional, em que vêm no mestre um substituto do pai, que lhes ralha, lhes impõe respeito e do qual dependem para quase tudo. Traumas e infâncias mal passadas levam a estas ocorrências. Contudo, existe uma relação semelhante entre muitos adeptos do estatismo, que procuram no Estado um pai que os proteja de todas as intempéries, mesmo que isso nunca os permita crescer e tornarem-se autónomos.
Entre estes, há uma classe especial, de intelectuais justificativos, que defendem o estatismo de uma forma completamente paternalista. Talvez eles não reparem, mas em geral as suas defesas assumem um constante. Existe uma premissa inicial que assume que as pessoas são parvas, não sabem o que querem, são incapazes de terem iniciativa e se forem livres vão fazer disparates. Com base nestas assunções, lançam previsões catastróficas se a venda de medicamentos que não precisem de prescrição médica for livre ou se for dada autonomia às escolas, só para referir dois exemplos.
Este tipo de chamadas de atenção faz lembrar o comportamento de pais super-protectores, que querem defender os filhos de todas as dificuldades do mundo, mas que acabam apenas por lhes tornar a vida mais difícil, no longo prazo, por lhes vedarem as oportunidades de crescerem, aprenderem a lidar com situações difíceis. Da mesma forma, os estatistas têm medo, medo de serem livres, e querem que todos partilhem do seu medo. Persistem numa constante fuga à realidade, apontando continuamente os perigos de não existir um Estado protector, como se existisse algo que não Deus (para quem ainda acredita) que pudesse dar a protecção que invocam.
Nem sequer penso que haja razões para procurar consensos, na busca de um equilíbrio, de saber qual é o nível de protecção mínima que deve dar o Estado. Eu acho que o Estado tem o direito de dar essa protecção mínima aos cidadãos que ficam desamparados, mas não tenho certezas do seu alcance. Prefiro ir ouvindo opiniões mais abalizadas que as minhas, resultados de estudos e experiências que já existam. Contudo, já por várias vezes pude constatar que os estatistas não procuram saber qual a melhor opção, como se pode melhorar. Os estatistas limitam-se a espernear, como crianças que choram como medo que se lhes apague a luz, por recearem o escuro. E infelizmente, num diálogo entre a razão e o medo, este último ganha quase sempre.
MC
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