terça-feira, março 15, 2005

O novo moralista (6)


Pensei terminar esta série com alguns esclarecimentos sobre quem é o moralista, tanto o antigo como o novo. É mais fácil pensar no moralista como uma pessoa ou um determinado grupo, uma imagem que nos fica de filmes e romances. Assim os antigos moralistas eram os padres e os novos o pessoal da esquerda caviar. Contudo, penso que uma identificação assim tão rápida não é de todo adequada.

Não quero eu negar que determinados grupos não tenham tido especial importância na constituição da pratica moralista, mas eles, por si sós, pouco conseguiriam. O que acho inegável é que o moralismo só pode ser um fenómeno relevante a partir do momento que ele é aceite e praticado um pouco por todos nós. A partir do momento em que cada um cede à facilidade de atacar, censurar ou insultar alguém em nome de um valor, está a ser moralista. Posto desta forma, o moralismo não é imediatamente condenável. Porque temos todos o direito de censurar alguém que mata, por exemplo. Há uma série de valores que nos parecem já adquiridos. Outros há que, à distância, nos parecem errados. Contudo, como saber os valores que em cada época estão errados?

A questão não é fácil. Como considerar o que é certo ou errado? Diz-nos a religião? Escolhe-se por forma a maximizar o bem comum? Ou o individual? Ou a liberdade? Todos nós somos influenciados por estas tendências, que por vezes conduzem a resultados contraditórios. São questões que continuarão em aberto por muito tempo.

Talvez só haja futuro para a humanidade se conseguir cultivar alguns valores. Mas para que isso aconteça, penso que a atitude do “moralista”, que ataca cobardemente, não é positiva. Porque se moralizamos os outros mentindo, agredindo, julgando sumariamente, impedindo a discussão, somos nós próprios que colocamos os valores em causa com a nossa actuação.

MC

|