quarta-feira, fevereiro 02, 2005

Campanha Eleitoral IX

A entrevista de Sócrates ontem na RTP teve para mim duas partes. A primeira parte foi lamentável, com a questão dos famosos boatos (é curioso mas sei quase nada sobre eles). Falou para Portugal inteiro como se o país fossem apenas as pessoas que andam a navegar pela net. A minha consideração pessoal por Sócrates desceu bastante, quando tentou fazer-se de vítima e mostrar-se indignado. Que Santana Lopes faça estes números, percebe-se, está-lhe no sangue. Mas Sócrates pareceu-me estar a representar aquilo que treinou face ao espelho, para parecer convincente.

Pouco depois, na Sic Notícias um indivíduo do PS, que não consigo identificar, mostrava-se ainda mais indignado, só faltando avançar com ameaças físicas contra o PSD. Que a campanha do PSD tinha envergado pela negativa, já se sabia. Não é algo que se aprecie em Portugal, apesar de sermos um povo dado à má língua. Que essa campanha tenha também aproveitado a onda de boatos, é algo discutível. O que acho indiscutível é o PS ter de facto entrado na campanha dos boatos, neste caso como vítimas. Sinceramente, pensei que isto fosse coisa que os principais lideres partidários decidissem entre si e fizesse um comunicado conjunto, repudiando os boatos e passando depois apenas às questões políticas.

A segunda parte da entrevista pareceu-me bastante mais positiva. Sócrates, apesar de não me parecer muito seguro, estava confiante e enérgico. Avançou com poucas propostas, o que apreciei. O choque tecnológico, renomeado plano tecnológico, foi apresentado em moldes mais razoáveis. Sócrates falou mais em termos uma organização diferentes de dinheiros, ao invés de mais investimento. Continuará a ser dinheiro a ser mal gasto mas ao menos não aumenta tanto o buraco.

Pareceu-me também suficientemente realista, não atacou muito a coligação nos aspectos da governação, chegando mesmo a concordar com Bagão Félix no caso das execuções fiscais ao pessoal da bola. Avançou com duas linhas de acção relativamente inócuas, o ambiente e a protecção aos deficientes. Coisas bonitas de dizer mas que qualquer um o podia fazer.

De certa forma, fiquei com a ideia de que tudo está em aberto, que muito dependerá do elenco do governo. E isto é mesmo uma grande incógnita. Porque dentro dos seleccionáveis de Sócrates estão muito putativos ministros despesistas e que ainda acreditam que com engenharias sociais se consegue alcançar algo. Mas também estão outros putativos mais realistas, que sabem que a sua função é criar condições para as pessoas serem mais livres e empreendedoras.

Mas há poucas razões para esta optimista. Porque os despesistas têm mais margem de manobra e parecem mais simpáticos. Os realistas têm, paradoxalmente, a realidade contra eles. Mesmo que saibam onde devem chegar, sabem que não conseguem lá chegar, com estes partidos, sindicatos, constituição, etc...

MC
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