segunda-feira, janeiro 17, 2005

Campanha Eleitoral IV

O CDS lançou os seus cartazes. Retive na memória aquele que diz algo como “voto útil”. Como se vê, não foi a mensagem que retive na memória mas sim os desígnios semióticos do cartaz. Ou seja, a cara de Paulo Portas mesmo no centro do cartaz e o que isso significa. Centrar o objecto principal numa fotografia é algo que se desaconselha a todos os principiantes, porque a imagem fica monótona, pouco dinâmica, o olhar fica fixo num só ponto, causando pouca interactividade com quem está a ver. Mas há excepções, por vezes isso dá jeito. Ora, quando se quer precisamente que o olhar se fixe num local e não saia de lá, ser esse ponto todo o fulcro da atenção.

Não restam dúvidas da mensagem a passar: Paulo Portas é o centro do partido. Mas a foto está ainda com uma exposição acima do correcto, ou dito de outra forma, tem mais luz do que o normal. Isto quer dizer que Paulo Portas não só é o centro, como o centro luminoso. Por razões eleitorais, há uma necessidade (é uma crença...) de colocar tudo dependente de um indivíduo. Um rosto para os eleitores se identificarem. Contudo, no CDS isso faz com que tudo o resto seja asfixiado, por ser levado ao extremo. O que é mau para a democracia, porque isso implica a ocultação de outros membros do partido, assim como as suas próprias ideias. Num país como o nosso tão inclinado à esquerda, é mau que não haja um pouco de direita a sério.

Confesso que no resto da campanha (que ainda não começou, é claro), a minha atenção é quase só dedicada ao que diz Sócrates e outros membros do PS. Porque realisticamente é quem vai ganhar e é preciso saber com o que contamos. Confesso que me tem horrorizado. Sócrates promete 200 milhões de euros para os idosos. Sim, “apoiadíssimo”, se isso significasse cortar em subsídios, em gastos supérfluos, em retirada do estado de funções que não lhes cabe, e até mesmo de outras prestações sociais. Mas não, esse dinheiro virá de uma melhor cobrança fiscal, afirma-nos. Quer pagar um promessa com um acto de fé, fica-lhe bem, somos um povo que gosta de acreditar.

Mas ao menos os portugueses não são enganados. O PS promete mais despesa pública, mas também deixa claro que as fontes de receita não estão garantidas. Fiam-se num crescimento económico de 3%, numa melhor cobrança fiscal, numa melhor gestão. Provavelmente também se fiam em subidas encobertas de impostas (chamados de reajustes, sobe-se uns e descem-se outros ), mas isto não dizem. Também se fiarão na memória curta das pessoas, e têm sempre as desculpas internacionais. Se correr mal, é porque a Europa não dá dinheiro suficiente e não nos deixa gastar muito, ou os chineses destoem a nossa industria, ou os americanos fazem petróleo subir de preço. Mas a melhor desculpa já se está a ver qual será. Receberam uma pesada herança da coligação PSD/PP.

Santana Lopes questionou sobre as incoerências do discurso de Sócrates. Tem toda a razão, sim senhor. E Jorge Coelho respondeu de forma bem elucidativa. Santana é o rei das trapalhadas. Ou seja, a confiança é tanta que basta atacar o homem, nem vale a pena argumentar. Esta arrogância do PS, de já não lhes restar qualquer dúvida da vitória ,também não é bom augúrio. O PS acha que vai governar em estado de graça, começar a distribuir dinheiro fácil, agradar a todos. Porque será que pressinto que, daqui a uns anos, Sócrates vai ser uma das pessoas mais odiadas em Portugal?
MC
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