sexta-feira, janeiro 14, 2005

Campanha Eleitoral III

Tinha dito anteriormente que o cartaz do PS estava bem feito. Escolhi mal as palavras. O que achava eficaz no cartaz era a mensagem referida. De facto, as pessoas esperam sempre uma alternativa salvadora do próximo governo, para uns meses depois desse governo ser eleito, já ter caído em desgraça. Há 30 anos que andamos nisto. Contudo, tecnicamente é um mau cartaz em termos visuais. A fotografia de Sócrates parece tirada para o BI, vista de frente com um “chapanço” de luz frontal. Há demasiado corpo e a expressividade é pouca. As cores utilizadas são também mortiças e não entusiasmam.

Já o cartaz do PSD, com a figura do Santana Lopes, é incomparavelmente superior. A fotografia foi pensada e cuidado, num estililo clássico. Um lado do rosto à luz, outro à sombra. Santana aparece só com parte do rosto, cabeça cortada, apenas o essencial para mostrar a expressividade. Delineia-se um fundo com as cores da bandeira, Santana sobre o verde, já que sobre o vermelho o resultado não seria o mesmo. O próprio fundo não é regular, a transição verde/vermelho é oblíqua, o que confere mais dinamismo e há um ligeiros ondulados que provocam sombras, conferindo assim uma aparência bem mais orgânica e agradável. Percebe-se o sentido da mensagem, tudo e todos estão contra Santana. Contudo, a mensagem é ineficaz por uma simples razão. As pessoas que estão a ver o cartaz em geral também são do grupo dos que estão contra, por isso imediatamente se fizeram múltiplas versões do cartaz a parodiar a situação do governo.

Por isso, entre o mau cartaz do PS, mas que tem uma mensagem que diz bastante às pessoas e um bom cartaz do PSD que não convence pela mensagem, conclui-se que a imagem não é tudo.

O cartaz do PCP é mais subtil do que parece. É certo que quase ninguém liga ao que o PCP diz, preferindo o estardalhaço do BE pela presumível “irreverência”. Mas acho que merece uma análise. É dito que o voto na CDU é o que promove as mudanças a sério. Um pouco de sentido crítico vê aqui uma grande incongruência entre a mensagem e a prática. Como podem eles falar em mudar quando repetidamente se opõem a todas as mudanças? No entanto, esta análise é simplista. A mensagem do PC tem de referir sempre algo mostre a sua essência. Falar em revolução, nos dias que correm, é algo excessivo. Por isso, fica-se pelo conceito mais suave das mudanças a sério. Contudo os PC é conhecido essencialmente por não querer mudar. A razão é simples. As ideias e práticas do PC estão fortemente implantadas em Portugal, especialmente devido ao PREC. Por isso, mudar significa deitar abaixo algo que o PC construiu por imposição. Claro que a versão oficial diz que é preciso mudar para combater a ofensiva de direita neoliberal fascista.

Ainda não vi nenhum cartaz do CDS/PP. Vi sim Paulo Portas num dos seu números fazendo CDS o acrónimo de Competência, Dedicação e a do S não me lembro (Solidez, Solidariedade, Sabujice, Sandice?) Acho que estes jogos de palavras estão a ficar anacrónicos. Eram bons para um tempo em que as pessoas de divertiam com pouco e achavam piada a qualquer infantilidade. Paulo Portas é um político indefinido, indeciso entre voltar ao estilo anterior, populista mas enérgico, ou entre um nova postura de Estado, mas amorfa.

MC
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