Pobres e ricos III
No primeiro post desta série abordei características gerais da sociedade, dizendo que, em geral, tínhamos um desempenho razoável. Podia também abordar pela óptica dos corolários invocados, na sequência: igualdade entre sexos, ausência de discriminação por raça ou credo, privilégio da racionalidade sobre a crendice. Estes corolários na nossa sociedade também serão cumpridos em parte. Dou especial ênfase às mudanças ocorridas, porque há poucas décadas atrás estávamos bastante mal nestes itens. Prevejo também que o futuro ainda reserve uma maior aproximação ao “ideal”, de forma gradual, porque são mudanças de natureza lenta e com possibilidade de refluxos.
Contudo, no segundo post desta série, quando passei para as características mais institucionais, o optimismo que poderia ter, desvaneceu-se completamente. Em quase todos os itens referidos, estamos longe do ideal e em alguns casos parecemos regredir. Na altura não mencionei, mas o autor refere também alguns corolários para esta série de características “institucionais”, caso fossem cumpridas. Esses corolários falam duma sociedade honesta, com uma elevada mobilidade geográfica e social, que dá mais valor a quem arrisca do que a quem joga pelo seguro, que não tem cotas mas é equitativa, que tem uma classe média numerosa, quase sem fronteiras de classes.
Parece-me que estamos bastante longe de cumprir estes corolários. Talvez o único que cumprimos será o de termos uma classe média numerosa, mas até isso pode ser uma ilusão. Porque a nossa classe média, na qual se englobam quase todas as famílias, será mais média baixa. Além disso, apesar de não termos castas, as fronteiras entre classes são bem perceptíveis.
Achei interessante fazer estas transcrições porque, apesar de não dizerem nada que seja grande novidade, a sua organização fez-me tirar uma conclusão que, de certa forma, me surpreendeu. O que concluí é que as razões fundamentais do nosso atraso estão quase todas relacionadas com questões institucionais, quer com o sua organização e âmbito, que com o seu desempenho, quer com o respeito que temos por elas.
Mais à frente, Daniel S. Landes afirma que «Nenhuma sociedade alguma vez atingiu esse ideal na Terra.» Poderia também dizer que este “ideal” é considerado por muitos uma coisa medonha, a evitar a todo o custo. A primeira série de características e seus corolários tornaram-se num “must” do politicamente correcto, apesar da sua prática não ser assim. Já a segunda parte, que implica uma reforma das instituições e da forma como para elas olhamos, é um caso bem mais complicado. Talvez uma das características mais irritantes dos portugueses, e que lhes retira quase toda a credibilidade, é estarem constantemente a lamentar-se e a clamarem por mudanças, apontando inúmeras soluções alternativas. Contudo, quando se anunciam algumas mudanças, por mais ténues que sejam, logo todos se apavoram e temem pelo apocalipse. E aquilo que anteriormente era mau e a evitar, passa a ser algo que estava bem e não se devia mudar.
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