quarta-feira, janeiro 12, 2005

Pobres e ricos I

No livro “A Riqueza e a Pobreza das Nações” (Daniel S. Landes), estão enunciadas duas séries de características que uma sociedade teria de cumprir para maximizar a sua capacidade produtiva. No livro elas são introduzidas por alturas da revolução industrial, mas acho que podia analisar essas características para o Portugal de hoje. Neste post abordo a primeira das séries.

«Comecemos por delinear o caso ideal, a sociedade teoricamente mais bem preparada para atingir o progresso material e o enriquecimento geral. Tenha-se em mente que essa não é necessariamente uma sociedade «melhor» ou «superior» (palavras que convém evitar), mas que está simplesmente mais capacitada para produzir bens e serviços. Essa sociedade ideal de crescimento-e-desenvolvimento seria a que:

1. Soubesse como utilizar, administrar e construir os instrumentos de produção e como criar, adaptar e dominar novas técnicas na fronteira tecnológica.

2. Fosse capaz de transmitir esses conhecimentos e know-how aos jovens, quer por educação formal, quer por treinamento de formação.

3. Escolhesse as pessoas para preencher funções por competência e mérito relativo: promovesse e rebaixasse com base no desempenho.

4. Proporcionasse oportunidades para empreendimentos pessoais ou colectivos: encorajasse a iniciativa, a competição e a emulação.

5. Permitisse às pessoas desfrutar dos resultados do seu trabalho e iniciativa.


Esses padrões envolvem certos corolários: igualdade dos sexos (duplicando por conseguinte o leque de talentos); nenhuma discriminação na base de critérios irrelevantes (raça, sexo, religião, etc.), igualmente a preferência pela racionalidade científica (meios-fins) sobre a magia e a superstição (irracionalidade).»

Penso que cumprimos razoavelmente estes pontos. Claro que estamos longe do ideal. Acho interessante os corolários aqui invocados. Certamente é discutível se as coisas assim se passam. Mas as vertentes económicas de uma sociedade, nomeadamente no maior ou menor liberalismo, costumam ser desprezadas ou vistas como coisas estanques. O que se aqui se afirma é que uma maior abertura em questões económicas conduz a uma maior abertura em termos sociais. De forma idêntica, já muitos ressaltaram que reduzindo a liberdade económica, todas as outras liberdades acabam por ser minadas.
MC
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