sexta-feira, abril 20, 2007

Voltando ao pequeno rectângulo

Após duas semanas por paragens longínquos volto ao país para constatar o seguinte:

SLB

O Sport Lisboa e Benfica não se conseguiu aguentar sem o meu apoio. Os sonhos do título e da Taça Uefa esfumaram-se. Para o ano voltaremos a acreditar.

VIRGINIA TECH

As boas consciências lusas debitam pérolas de sapiência sobre o massacre de Virginia Tech. Mas ainda precisamos de mais provas de que a América está louca e a venda livre de armas conduz inevitavelmente a estes resultados rotineiros? Não interessa se existem outros eventos do género em várias partes do mundo, que em muitas outras paragens a disseminação de armas é semelhantes e que o Estado de Washington, que proíbe a venda livre de armas, tem mais criminalidade que o Estado da Virgínia. As consciências tranquilas, que apontam facilmente o dedo acusador, acabam por revelar uma mentalidade sórdida que desculpa em permanência os criminosos e pugna pelo desarmamento das vítimas. Não lhes basta que tenham sido assassinadas, ainda conseguem culpá-las por isso.

EXTREMA-DIREITA

A extrema-direita volta a dar que falar. Os seus elementos são tão estúpidos que nem percebem que a principal função que desempenham, involuntariamente, é dar pretextos à extrema-esquerda. Tenho lido em blogs perguntas do género: «Com quem preferias encontrar-te num beco escuro, com a extrema-direita ou com a extrema-esquerda?» A pergunta é interessante mas devia também ser feita outra: «Preferia ser governado pela extrema-direita ou pela extrema-esquerda?» Ora, o beco escuro partilha-se de forma agradável com a extrema-esquerda, possivelmente com ajuda de substâncias psicotrópicas e, com alguma sorte, alguma jovem de formas voluptuosas decide mostrar-se como veio ao mundo, como forma de protesto contra o fascismo. Já encontrar a extrema-direita no beco pode ser realmente muito perigoso.

Em relação à governação, a questão inverte-se um pouco. Apesar de ambas as extremas partilharem alguns propósitos (anti-capitalismo, limitação da liberdade individual), as ditaduras que geram têm actuações significativamente diferentes. As ditaduras de direita são ditas reaccionárias porque destinam-se a repor uma situação anterior. Utilizam a repressão, mais ou menos violenta, para impor a ordem e uma certa organização geral da sociedade. Este tipo de ditadura contenta-se com a manutenção de privilégios para uma elite dirigente e exige que o povo que não transgrida certos limites, não se importando por aí além com aquilo que as pessoas fazem num domínio privado. Já as ditaduras de esquerda são progressistas porque querem criar uma nova sociedade e usam a coerção para tal fim. Têm projectos globais para a sociedade e para cada aspecto da existência. São, por excelência, projectos totalitários.
Se não existisse uma terceira opção, escolheria, sem qualquer dúvida, viver numa ditadura reaccionária. Por pior que fosse, saberia o que me esperava e as fronteiras do risco. Teria ainda maior esperança numa alteração positiva porque, à medida que a reposição da ordem fosse sendo consumada, a ditadura iria ter tendência para se ir aligeirando e, logo, mais facilmente seria derrubada. Já uma ditadura revolucionária vive uma mudança perpétua. Aqueles que são bons hoje, amanhã podem levar um tiro na nuca. Os projectos utópicos, com vista a uma sociedade perfeita num futuro indeterminado, destroem não só todas as estruturas existentes como a própria alma humana. Por essa razão os países que viveram ditaduras de direita, quando passaram para a democracia conseguiram endireitar-se e prosperar rapidamente, enquanto aqueles que viveram projectos socialistas têm muitas dificuldades em se encontrar a si mesmos.


SÓCRATES

É impressionante a quantidade de pessoas que defendem o nosso Primeiro-Ministro e nem sequer lhes pagam para isso. Por exemplo, já perdi a conta ao número de comentadores em blogs que acham mesquinho estar a atacar Sócrates por causa das suas qualificações e que ele não passa a ser pior governante se afinal não for engenheiro. Acontece que ninguém acusou Sócrates por essas razões. O processo é longo é tem muitos aspectos, alguns que me parecem ser de menor relevância, como o de saber se é engenheiro ou só licenciado em engenharia ou em que datas se deu a conclusão do curso. Realmente grave foram as pressões exercidas sobre os jornalistas para que o assunto ficasse abafado, utilizando os nossos recursos via parasitas estatais. Grave é o estranho relacionamento entre Sócrates e um professor Morais, onde parece evidente a troca de favores, envolvendo provas de inglês medíocres e cargos partidários.

Sócrates mostra que, afinal, não é diferente de um Valentim Loureiro. Convive bem com a mentira e o embuste, considera-se acima dos outros cidadãos. Tal como Valentim Loureiro, Sócrates e os seus assessores, acham que o povo é estúpido, cobarde e não ficará indignado com evidentes manobras de bastidores. Os responsáveis pela UNI, em processo de encerramento que depende directamente do governo, que ameaçaram com declarações bombásticas sobre o percurso académico de Sócrates, no dia seguinte vêm com um discurso que apresenta o Primeiro-Ministro como o aluno mais exemplar que passou por aquele estabelecimento de ensino. Este tipo de acontecimento decorre nas televisões em horário nobre mas nem por isso os envolvidos preocupam-se em ter um discurso minimamente credível.

Há quem seja da opinião que um país como o nosso, que acredita em Fátima, está preparado para acreditar em qualquer embuste. Cada vez convenço-me do contrário. Num país onde as pessoas se envergonham de acreditar no sobrenatural, as crenças são transferidas para figuras de carne e osso que se prestam a uma corrupção até ao tutano.
MC
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