sexta-feira, março 03, 2006

Freitas, o iluminado

À primeira vista, a última intervenção de Freitas do Amaral no parlamento serviu apenas para aferirmos sobre o carácter (falta dele), honestidade (falta dela), integridade (completa ausência), gosto (mau) da referida personagem. Mas a postura de Freitas não é de quem está a colocar a cabeça no cepo, antes é a de quem se considera uma reserva moral, embrenhado em manobras diplomáticas de uma importância vital e sobre as quais deve mostrar reserva para não perderem eficácia. Porque Freitas, que seguramente só pensa no nosso bem-estar, lá deixou escapar coisas como “obter a paz”, “evitar um conflito que alguns se preparam para lançar”. A minha memória é fraca, eu sei.

Imagino eu várias coisas daqui. Freitas, na boa tradição europeia, lança esforços diplomáticos em relação ao Irão, a propósito da questão nuclear. Nada de fazer voz grossa e ameaçar com a força. Aliás, só se pode ameaçar com aquilo que se tem. Imagino, ainda, que em privado, os diplomatas iranianos se mostram bem mais abertos às negociações do que aquilo que se pode esperar ao ver o tresloucado presidente do “reino” persa. Imagino ainda, que os diplomatas europeus, acreditam mesmo nesta maior abertura iraniana. Mais que isso, que essa abertura só acontece por causa do diálogo macio europeu. Por fim, imagino que a diplomacia europeia, com Freitas à cabeça, acredita que os seus esforços estão a ser proveitosos e que não estão a ser enganados pelos amigos persas.

Esta postura “freitosa” é típica dos fracos iluminados. O fraco que se acha iluminado, que pensa que a não utilização da força é prova de sabedoria. Que nos fala paternalmente quando dizemos que é preciso fazer algo, porque eles já estão a fazer algo, dormindo pela calada com o inimigo. É também a lógica do “Se não os podes vencer…”, que só é utilizada por aqueles que não acreditam em si e pensam de forma pragmática que o melhor a fazer é suportar a decadência de forma suave. E não nos podemos esquecer que para o cobarde achar que tem razão basta-lhe aquele alívio nas costas enquanto o pau vai e vem.

MC
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