terça-feira, fevereiro 07, 2006

Liberdade de ter medo

A primeira vez que vi os tais rabiscos feitos na Dinamarca, não liguei muito. Não sabia o que era, fui apanhado meio desprevenido. Pareceram-me tão banais que não me chamaram a atenção. A discussão sobre este assunto, metendo a liberdade de expressão e os seus limites, tem sido longa para tão pouco material. Explico a duração da discussão por dois factores, ligados àqueles que apelam, mesmo que veladamente, à censura. Há os que aplaudem tudo o que seja anti-ocidental, anti-capitalista, anti-ameriricano. A esses interessa fazer render o peixe, e aproveitar cada migalha de ódio que esta discussão pode meter. A esquerda ideológica faz desajeitadamente este papel, debitando argumentos em que não acredita, porque não quer admitir que apenas tem prazer em tudo o que seja ódio aos valores “ocidentais”.

Contudo, há muitos que não fazem parte desta turba irresponsável e pedem moderação em relação ao Islão. Pois bem, eu sou moderado em relação ao Islão. Tenho em Alcorão em casa, aprecio inúmeras coisas das culturas muçulmanas, reconheço os períodos históricos em que o Islão foi uma ilha de tolerância e conhecimento. Sei também que não é o Islão inteiro que se manifesta, porque mais de mil milhões de pessoas fariam uma estrondo bem maior. Mas esse Islão moderado tem sido muito passivo, e quando se mete a questão do terrorismo, isso passa a ser conivência.

O ocidente está dividido e infelizmente entre duas opções nada boas. Parte está borrada de medo. Quando nos dizem que não devemos provocar o Islão, apenas estão a dizer “Tenho medo”. Outra parte ficou inflamada para a luta, sem analisar propriamente as consequências. Numa eventual escalada, comunidades islâmicas pacíficas no ocidente podem ser atacadas, enquanto os fanáticos ficarão incólumes.

Há que ter alguma lucidez para tentar perceber onde está o problema. Os rabiscos feitos na Dinamarca foram apenas um pretexto para radicais islâmicos se insurgirem contra o ocidente que invejam. Se não fosse isso, haveria de ser outra coisa. E de certo haverão outros pretextos que num futuro próximo servirão para o “Islão” se sentir ofendido.

O ocidente, se fraquejar para não ofender um Islão radical, irá pisar nos valores que possibilitaram uma qualidade de vida sem par. Há que ser duro com os radicais e estimular o Islão moderado a ser mais activo. Pode não resultar. Aliás, acho que não vai resultar e a possibilidade de guerra a sério não é de descartar. Aqueles que pensam que conseguem evitar um grande conflito acobardando-se, enganam-se. Apenas dão um sinal de fraqueza que poderá tornar a guerra inevitável.
MC
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