Prozac estatal e o Neo-cavaquismo
Os 10 anos de governação cavaquista apanharam parte da minha adolescência e a entrada na vida adulta. Vivendo eu numa zona fortemente virada à esquerda, aprendi a ter preconceitos em relação a este período da nossa governação, bem como aos seu principais intervenientes. A minha estima ia para a presidência de Mário Soares, na qual identificava um certo ar de contracultura. Era virada à esquerda, onde então me posicionava, ainda com a vantagem de ser suprapartidária na aparência. A minha ingenuidade não permitia vislumbrar que Soares era imensamente mais arrogante que Cavaco Silva.
O cavaquismo, atacado pela esquerda e por uma direita populista, então pensada por Paulo Portas, tinha as suas marcas bem definidas pelos seus inimigos: o betão e o alcatrão. O cavaquismo permitiu ainda a subida do peso do estado e da sua vertente social. A veia maracadamente intervencionista desta governação, em qualquer parte do mundo, seria identificada como de esquerda. Contudo, a situação específica portuguesa, onde o PREC ia sendo desmantelado com as privatizações, dava azo a que a esquerda repugna-se as políticas cavaquistas. Outros invocavam a frieza de se dar primazia ao betão e ao alcatrão, mas passados estes anos percebemos que não tinha, então, sido proposta pelas oposições qualquer ideia de vulto realmente alternativa e minimamente válida.
E isso leva-nos até ao momento presente. O governo anuncia a sua doutrina e as suas prioridades: manutenção do estado social e estimular a economia com obras públicas – exactamente o mesmo modelo seguido pelo cavaquismo. Naturalmente que agora há outros clichés, a banda larga, a energia eólica, o desenvolvimento sustentado. Contudo, a essência permanece a mesma. A esquerda, com outro estilo e com outros disfarces, implementa agora o mesmo modelo que tanto criticou antes e que é o seu modelo por excelência.
O cavaquismo, atacado pela esquerda e por uma direita populista, então pensada por Paulo Portas, tinha as suas marcas bem definidas pelos seus inimigos: o betão e o alcatrão. O cavaquismo permitiu ainda a subida do peso do estado e da sua vertente social. A veia maracadamente intervencionista desta governação, em qualquer parte do mundo, seria identificada como de esquerda. Contudo, a situação específica portuguesa, onde o PREC ia sendo desmantelado com as privatizações, dava azo a que a esquerda repugna-se as políticas cavaquistas. Outros invocavam a frieza de se dar primazia ao betão e ao alcatrão, mas passados estes anos percebemos que não tinha, então, sido proposta pelas oposições qualquer ideia de vulto realmente alternativa e minimamente válida.
E isso leva-nos até ao momento presente. O governo anuncia a sua doutrina e as suas prioridades: manutenção do estado social e estimular a economia com obras públicas – exactamente o mesmo modelo seguido pelo cavaquismo. Naturalmente que agora há outros clichés, a banda larga, a energia eólica, o desenvolvimento sustentado. Contudo, a essência permanece a mesma. A esquerda, com outro estilo e com outros disfarces, implementa agora o mesmo modelo que tanto criticou antes e que é o seu modelo por excelência.
O cavaquismo teve de governar com as políticas de esquerda e a conjuntura favorecia isso. Dinheiro fácil de Bruxelas e uma rede de infra-estruturas bastante deficitária levavam a que o investimento público fosse considerado a solução natural. Hoje em dia a situação é bem diferente. Tornou-se evidente que o Estado gastou demais, gastou mal, serve mal e, pior que isso, desempenha funções que não lhes compete e outras que desnecessárias que apenas dificultam a vida a todos nós. Um governo de esquerda, dependente do Prozac estatal, nem admite repensar tudo isto. Sabem que há dificuldades, sabem que se não se fizer nada será a falência. As reformas que advogam são todas no sentido de salvar o modelo, porque acreditam plenamente na sua validade. Nunca lhes passa pela cabeça que as dificuldades sentidas são inerentes ao próprio modelo.
MC
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