quarta-feira, junho 08, 2005

Quando a inveja fala mais alto


A inveja, a existir, é quase sempre a força dominante em acção. Vem isto a propósito do tiro no pé dado por este governo, ao anunciar mexidas nos privilégios de políticos. Tem isto duas consequências, uma delas relativamente inócua. Essa, faz os holofotes incidirem em cima dos políticos de carreira, que sem os privilégios que assim obtém, nunca teriam méritos suficientes para obter rendimentos e honrarias comparáveis. Contudo, esse tipo de políticos não se importará muito de serem permanente enxovalhados uma vez que aquilo que os caracteriza é precisamente a falta de coluna vertebral. O corte de privilégios a estes políticos, em especial, devia ocorrer não porque estamos numa situação difícil mas simplesmente porque isso é moralmente correcto (das muitas morais existentes, quase todas concordarão com isto). Contudo, penso que esses privilégios, desaparecendo agora, irão aparecer de forma dissimulada no futuro.

Contudo, há uma consequência bem mais negativa neste processo. Num país em que “mérito” é um conceito muito mal assimilado, torna-se difícil distinguir o trigo do joio. Certos cargos, dos quais depende um grande número de pessoas e/ou pelos quais se movimentam avultadas somas financeiras, é essencial que sejam ocupados por pessoas de elevada competência. Pessoas assim são raras em qualquer lugar e ainda mais em Portugal, tão carenciado que é em recursos humanos de elevada formação. Naturalmente que estes mesmos recurso valiosos são disputados pelo sector privado, que tendo uma atitude muito mais realista, não hesitará em os contratar, pagando o que eles merecem.

Num momento em que se ganhava uma ténue consciência na sociedade portuguesa de que estas pessoas deviam ser bem pagas quando ocupando cargos públicos de grande importância, ocorre este golpe de teatro mal encenado. Deu-se palco para todas as invejas puderem se exprimir de forma cega. No mesmo saco coloca-se aquele que é competente com o político carreirista medíocre. Nem parcas soluções de racionalização do sistema são avançadas, como se a solução única fosse condenar ambos a pão e água.

Mas as soluções até são simples, apesar de difíceis de aplicar. Mesmo sem advogar o estado mínimo, boa parte destes problemas eliminar-se-ia transferindo algumas funções do estado para sector privado ou, então, com a simples eliminação (há serviços que só atrapalham). A outra solução, a aplicar em paralelo, seria um assumir claro de quais as funções do estado que necessitam de pessoas de máxima competência. Essas pessoas são as que têm reconhecido mérito e o reconhecimento desse mérito deve ser feito com remunerações adequadas. Poderá parecer uma situação imoral, quando se compara com tantos ordenados baixos, mas a comparação deve ser feita com as outras opções alternativas. Porque nãos atraindo os melhores para esses lugares, eles não irão ficar vagos, isso é certo. E os candidatos melhor colocados para ocuparem estes cargos são precisamente os políticos carreiristas medíocres. E alternativa poderá sair bastante mais cara.

MC

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