O paradoxo socialista
O socialismo caracteriza-se pela prática da redistribuição. Para tal, efectua dois tipos de justificação. A mais moderna fala da solidariedade e da coesão social. A explicação clássica é mais dura, exigindo a redistribuição de riqueza porque ela foi obtida através da exploração. Esta lógica parte do pressuposto errado de que a economia é um jogo de soma nula. Sem querendo negar que vários tipos de exploração são possíveis, é evidente, para quem quer ver, que a soma final pode ser positiva e todos ficam a ganhar.
Contudo, o paradoxo do socialismo clássico está em basear-se no princípio do jogo de soma nula para justificar a redistribuição, mas quando chega ao momento de avaliar as suas consequências práticas, esquece-o completamente. Porque no momento em que se distribui a riqueza, de facto é uma jogada de soma nula. A riqueza que é dada a uns não pode ser investida por outros. O socialismo clássico gosta sempre de enaltecer o que faz pelos pobres com a redistribuição, esquecendo aquilo que os mesmos desfavorecidos perdem devido à mesma redistribuição. O socialismo clássico não esconde que a redistribuição afecta os mais abastados, mas até o afirma com orgulho, porque trata-se de uma vingança em relação ao pecado original.
Contudo, o socialismo moderno, que já não usa os estereótipos gastos de inspiração marxista como a “exploração do homem pelo homem”, incorre também numa lógica paradoxal. Porque a redistribuição socialista acaba também por ser incompatível com os objectivos propostos de coesão e solidariedade. Aqui importa clarificar o que entendo por redistribuição socialista. Porque conservadores e mesmo alguns liberais defendem algum grau de redistribuição também. O que distingue os socialistas é colocarem a redistribuição como um princípio fundamental e, logo, os níveis de redistribuição socialistas tendem a ser muito maiores do que de governos conservadores (excluo aqui os governos liberais porque nunca existiram).
O objectivo da coesão social não se consegue eliminando as diferenças entre ricos e pobres, mas sim tornando uma sociedade gaussiana, ou seja, com uma forte classe média. Quando a redistribuição atinge níveis muito elevados, deixa de haver qualquer motivação para a criação de riqueza. Passam a ser todos pobres e só com uma grande dose de romantismo podemos achar que a pobreza está eivada de virtudes. Os governos socialistas nos países democráticos não cometem este erro, em geral, adoptando níveis de redistribuição mais baixos. Contudo, muitas vezes ainda são demasiado elevados e a consequência é precisamente acabar com a solidariedade, um dos fins nobres a que se propuseram.
A solidariedade estatal nunca é vista como tal. Para uns é uma questão de direitos adquiridos, para outros é a expropriação indevida do que é seu. Os que foram obrigados a dar, perdem qualquer ímpeto solidário, acham que já deram demais. Os que recebem continuam a achar a sociedade fria e cruel, porque a solidariedade estatal é impessoal, e eles acham que apenas recebem o que lhes é devido. Ao mesmo tempo, esta redistribuição forçada e em larga escala mata uma dinâmica social que poderia, essa sim, ser realmente solidária.
MC
Contudo, o paradoxo do socialismo clássico está em basear-se no princípio do jogo de soma nula para justificar a redistribuição, mas quando chega ao momento de avaliar as suas consequências práticas, esquece-o completamente. Porque no momento em que se distribui a riqueza, de facto é uma jogada de soma nula. A riqueza que é dada a uns não pode ser investida por outros. O socialismo clássico gosta sempre de enaltecer o que faz pelos pobres com a redistribuição, esquecendo aquilo que os mesmos desfavorecidos perdem devido à mesma redistribuição. O socialismo clássico não esconde que a redistribuição afecta os mais abastados, mas até o afirma com orgulho, porque trata-se de uma vingança em relação ao pecado original.
Contudo, o socialismo moderno, que já não usa os estereótipos gastos de inspiração marxista como a “exploração do homem pelo homem”, incorre também numa lógica paradoxal. Porque a redistribuição socialista acaba também por ser incompatível com os objectivos propostos de coesão e solidariedade. Aqui importa clarificar o que entendo por redistribuição socialista. Porque conservadores e mesmo alguns liberais defendem algum grau de redistribuição também. O que distingue os socialistas é colocarem a redistribuição como um princípio fundamental e, logo, os níveis de redistribuição socialistas tendem a ser muito maiores do que de governos conservadores (excluo aqui os governos liberais porque nunca existiram).
O objectivo da coesão social não se consegue eliminando as diferenças entre ricos e pobres, mas sim tornando uma sociedade gaussiana, ou seja, com uma forte classe média. Quando a redistribuição atinge níveis muito elevados, deixa de haver qualquer motivação para a criação de riqueza. Passam a ser todos pobres e só com uma grande dose de romantismo podemos achar que a pobreza está eivada de virtudes. Os governos socialistas nos países democráticos não cometem este erro, em geral, adoptando níveis de redistribuição mais baixos. Contudo, muitas vezes ainda são demasiado elevados e a consequência é precisamente acabar com a solidariedade, um dos fins nobres a que se propuseram.
A solidariedade estatal nunca é vista como tal. Para uns é uma questão de direitos adquiridos, para outros é a expropriação indevida do que é seu. Os que foram obrigados a dar, perdem qualquer ímpeto solidário, acham que já deram demais. Os que recebem continuam a achar a sociedade fria e cruel, porque a solidariedade estatal é impessoal, e eles acham que apenas recebem o que lhes é devido. Ao mesmo tempo, esta redistribuição forçada e em larga escala mata uma dinâmica social que poderia, essa sim, ser realmente solidária.
MC
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