segunda-feira, junho 13, 2005

Há esquerdas e esquerdas

Quando se diz que a comunicação social, assim como a intelectualidade bem estabelecida, é dominada pela esquerda, é preciso sabermos de que esquerda se está a falar. A forma como a generalidade da comunicação social tem lidado com a morte de Álvaro Cunhal mostra que o PCP não faz parte da esquerda politicamente correcta. Isso pode não ser óbvio, devido à nossa tradição de usar a morte como uma forma de expiar os pecados e tornar todos os falecidos pessoas boas. Desta forma, os jornalistas não mostram uma hostilização frontal aos comunistas.

Contudo, nas várias entrevistas que tenho visto, o jornalista de alguma forma parece querer passar a mensagem de que o comunismo é errado. No telejornal da RTP, perguntavam em directo a uma jovem membro do PCP, se ainda acreditava no ideal comunista. Nesta altura, isso não seria muito diferente de ter perguntado a alguém no Vaticano se acreditava em Deus, aquando da morte do Papa. E em geral não têm sido poupadas críticas a Álvaro Cunhal, nomeadamente em relação ao período após o 25 de Abril de 74.

A minha estranheza de tudo isto está em ver o tratamento que os media dão a outras esquerdas, nomeadamente a bloquista. Não é por uma questão de justiça que a comunicação social dá umas alfinetadas nos comunistas nesta altura. É apenas porque não se trata da esquerda politicamente correcta. Nunca se viu um jornalista perguntar a um bloquista qualquer se acredita nos disparates que professa, nem o confrontar com as mentiras que fazem parte do seu dia a dia. Nunca se viu um jornalista questionar o financiamento do BE, nem sobre quais são os planos para o país que têm. Nunca lhes perguntaram que ideologia realmente professam porque, não se assumindo como comunistas, nunca se lhes viu diferenças no que há de fundamental. Nunca os questionaram sobre a legitimidade de se assumiram como os guardiães de uma nova moral, julgando tudo e todos.

MC

|