terça-feira, julho 05, 2005

Alberto João Anacleto

Alberto João Jardim conseguiu surpreender-me. Bem sabia que se tratava de uma pessoa que não hesitava em dizer o que lhe passava pela cabeça, mas não percebi esta manobra de um político que, entre os muitos defeitos que tem, costuma demonstrar alguma sagacidade. Falando em nome de todo um arquipélago, como se tivesse um mandato plenipotenciário em sua posse, ameaçou que a interdição da Madeira a 1/3 da humanidade (chineses mais indianos).

A minha surpresa nem está no carácter xenófobo das declarações, que não me parece muito surpreendente. Alberto João Jardim fez da Madeira um bom destino turístico e conhecendo a sua veia “arrecadatória” de fundos, não se percebe porque razão quer fechar a ilha a quem lhe poderia encher os cofres. Porque já hoje muitos chineses abastados procuram locais distantes onde possam ter férias e gastar dinheiro em casinos. Mas Alberto João diz que eles não são bem vindos.

As reacções a esta incidência foram as esperadas, lamentos politicamente correctos, raspanetes e, claro, muita e muita hipocrisia. Numa altura em que parece haver um consenso geral em fechar o país a tudo o que é chinês, soam a falso as críticas a Alberto João Jardim. No fundo, ninguém discorda da essência da mensagem, mas apenas na forma desbocada como foi emitida. Alberto João esqueceu-se de invocar o “dumping social”e o desemprego que os chineses podem provocar. Não foi uma xenofobia politicamente correcta porque não foi efectuada em nome da coesão social.

E temos ainda os hipopótamos que se queixam do crocodilo por este ter a boca grande. Os bloquistas atiraram-se para a primeira fila da defesa destas “minorias”, gritando por ilícitos criminais (curioso que quando incitaram ao anti-americanismo não se lembrassem disso). Estes alter-globalistas, que dão workshops de desobediência civil, assumem-se como neo-moralistas acima de qualquer suspeita. O meu sonho era ver um Big Brother que juntasse na mesma casa Alberto João, Valentim Loureiro, a Francisco Louça e Fernando Rosas (naturalmente que escolheria para apresentador Eduardo Prado Coelho). Não creio que se fossem esfolar vivos. Penso, antes, que iriam dar-se todos muito bem. Afinal, o que os une é bastante mais do que aquilo que os separa.

MC
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