quinta-feira, julho 07, 2005

Atentados em Londres

Há umas semanas atrás estava junto à estação de Atocha, em Madrid, onde tinham sido cometidos os actos terroristas em 11 de Março. Não se passou muito tempo mas na minha memória já tudo parecia longínquo. O volume de informação a que estamos sujeitos diariamente faz com que tudo seja relegado para o esquecimento ou, em alternativa, para um lugar cinzento onde tudo perde importância. Contudo, esperava sentir nos madrilelos alguns sinais do trauma, mas o certo é que não os vi. É certo que não tenho forma de comparar com a situação anterior, mas a sensação é que tudo já era uma realidade distante.

Os atentados de Londres parecem também a repetição de algo. Vejo nas reacções à minha volta serem ténues, longe do entusiasmo anti-americano de outros tempos. Mas as circunstâncias são outras, o 11 de Setembro era a inauguração de uma época de terrorismo apocalíptico. O terrorismo declarou guerra ao ocidente, mas parte desse ocidente, especialmente na Europa, não viu aí qualquer problema. De início poderíamos ver isto à luz do ressentimento e inveja contra os EUA. A Europa sentia-se segura enquanto os EUA fossem os alvos preferenciais.

Foi o próprio António Vitorino que em entrevista a uma TV que referiu que já tinham sido abortados mais de uma dezena de actos terroristas na Europa. Mas os europeus continuavam a não ligar. Madrid explicava-se pelo o apoio do governo espanhol na guerra do Iraque. Imagino agora que os atentados em Londres também se justifiquem da mesma forma e pela proximidade da cimeira do G8. No fundo, esta simplificação é inteligente do ponto de vista emocional. O terrorismo é um inimigo sem rosto. Mesmo que falemos de algumas figuras como Bin Laden, o terrorista pode ser qualquer um. O cidadão comum também sabe que não tem armas para lidar directamente contra o terrorismo. O terrorista não se importa com o que ele pensa nem como que ele quer, nem com a sua vida. Por isso é mais fácil acusar quem está mais à mão, neste caso os políticos. Alguns fazem-no tão veementemente que nem se apercebem que acabam por desculpar o terrorismo e até justificá-lo.

Pensei inicialmente que a ameaça terrorista iria mudar o sentir das sociedades ocidentais. Mas não, as sociedades apenas encontraram formas de relativizar as situações. O terrorismo contra o ocidente, por incrível que pareça, tornou-se para alguns num problema com origem no ocidente e que tem de ser resolvido internamente. Mesmo sabendo que os autores factuais não têm origem no acidente, eles passaram a ser visto apenas como agentes de justiça. A culpa está nos nossos pecados. De certa forma, o ocidente reage ao terrorismo como reagiam as sociedades primitivas aos percalços da natureza. Passamos a achar natural oferecermos alguns dos nossos cordeiros em holocausto.

MC
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