sexta-feira, março 11, 2005

O novo moralista (3)


Há uns anos atrás era frequente a alusão à crise de valores. De certa forma, estava isto relacionado com o descrédito em que tinha caído o antigo moralista, que referi nos posts anteriores. Em várias partes do mundo, este moralista havia décadas que já não era rei e senhor. Os portugueses não tiveram, na sua globalidade, tempo para maturarem e procurarem novos valores por si mesmos. A nossa “crise” de valores foi de curta duração, porque em poucos anos o novo moralista conseguiu impor-se.

Tal como tinha aludido para o antigo moralista, o novo moralista é um hipócrita que usa também a verdade como muleta. Tinha também referido que, no presente, o plano focal já não era a intimidade mas o nível social (ambos os planos podem fazer parte da imagem, mas há sempre um mais focado que o outro). O novo moralista passou a ter ideais sociais, dá de barato que a liberdade individual de cada um é intocável. Contudo, esta separação de liberdades é ilusória, como se pode mostrar. Restringir uma é apagar a outra. Anteriormente, a restrição das liberdades individuais teve profundas consequências ao nível social.

Mas fazendo a focalização do assunto, as virtudes do novo moralista defendem aquilo que genericamente se chama solidariedade social. O moralista alerta para os problemas reais, há pobres, há pessoas que passam grandes privações, há pessoas que pelo nascimento ficam condenadas a uma vida medíocre. A ilusão do novo moralista é que tem as resposta para tudo. Ele sabe quem são os culpados e ele sabe quais são as soluções. O moralista culpa o mercado, os capitalistas, a ganância. O novo moralista anuncia o paraíso com soluções distributivas, com o controlo estatal.

Os paralelos do antigo moralista com o novo moralista são bastantes para não serem reveladores de terem muito em comum.

(Cont.)

MC

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